sábado, setembro 30, 2006

O papel da rádio em Angola. Por Margareth Nanga

A Rádio Ecclesia é sem dúvida, o meio de comunicação que muito disse e diz à liberdade de expressão em Luanda, uma vez que ainda não tem permissão para emitir nas restantes 17 províncias angolanas. Esta estação reiniciou as suas emissões em 1996 mas, é em 1997 que dá os grandes passos e promove as primeiras emoções nos corações do público angolano, com a emissão de programas e jornais. A estação Católica não é só um novo meio, uma alternativa (em relação aos meios estatais), é antes de tudo um meio de comunicação que procura analisar “o outro lado“ das questões que os factos com relevância social e noticiosa fazem despoletar. Lado este, que é muitas vezes ofuscado ou intencionalmente omitido por qualquer razão que não seja a defesa do interesse público da comunidade. A Rádio Ecclesia é a estação da voz e vez dos que não têm espaço em nenhum outro meio de comunicação falado. A Emissora Católica ajuda hoje, na abertura de horizontes nesta sociedade, onde cada vez mais, os seus citadinos procuram sair do fundo das águas do silêncio que desespera. Esta assume corajosamente a sua missão e avança sem receios de um sistema que procura calar todos os que são contrários aos seus ideais. Sendo a primeira rádio com um sistema digital avançado em Angola e a única que o usa ao longo das suas emissões até ao momento, a rádio de confiança como também é conhecida, procura construir uma grelha de programas e informação com a maior qualidade possível e sempre com o intuito de levar à população o facto, a verdade, análise e opinião dos que a podem dar fazendo-o bem. A Ecclesia foi a pioneira dos debates informativos no mundo da rádio em Luanda. Com emissão ao sábados das 10h as 12h, o debate informativo é o segundo maior espaço de audiência da Emissora, na senda dos programas de carácter informativo. O fórum é o outro espaço de opinião. Neste os principais comentários são dos ouvintes, os chamados “comentaristas do quotidiano”. Neste dois espaços, os interlocutores são chamados a uma desafiadora e nobre missão: “pensar uma nova Angola”. Se este pensamento não é novo, e se daí não saem novidades para um país, a verdade é que sempre conseguiram suscitar fortes diálogos, com muitas críticas dirigidas à governação e aos seus governantes. Todos os sábados, segundas, quartas e sextas são dias de “desabafar”. Quem também lucrou muito com o surgimento da Rádio Ecclesia, foram os partidos políticos da oposição, não porque tenham um espaço assegurado na rádio mas, porque a Ecclesia dá oportunidade a todos para se expressarem, de acordo com a circunstância e importância sem deixar de ser apartidária. Com a Ecclesia, surgiram os jornais semanários com a mesma linha de actuação. Com isto, aos poucos, a imprensa passou a ser mais aberta, atrevida e, às vezes, “exagerada”. Seguiram-se críticas, rumores e até pronunciamentos oficiais de que a Rádio Ecclesia “era uma rádio de terroristas”, uma rádio contra-governo que só critica e nunca sugere, há até os mais ousados que a rotularam como sendo a “Rádio da Oposição”, “Rádio da Unita”, o maior partido da oposição. Com estes adjectivos, cada vez mais foi ficando difícil para a Emissora Católica ter fontes oficiais, os canais de informação no governo foram ficando cada vez mais fechados. Hoje, com quase 10 anos de reabertura, a Ecclesia continua a caminhar numa Angola onde já são visíveis, os sinais de uma sociedade pluralista. Hoje, é (também) graças à Ecclesia que cada um com a sua cor partidária, ou sem qualquer uma delas, consegue opinar e fazer da sociedade angolana, um sítio onde a diversidade pode “conversar” e andar. COLABORAÇÃO NO IGREJA LUSÓFONA O programa Igreja Lusófona tem o seu espaço ao domingo. A sua emissão em Angola passou por várias dificuldades técnicas que sendo superadas foram reiniciadas as emissões. A colaboração com este programa começou pouco depois da reabertura da rádio, tendo passado por ele jornalistas como, Gustavo Silva (actual Director Executivo da Ecclesia), Alexandre Cose e Cornélio Bento. Penso que desde o passado até ao momento, muita coisa mudou na relação Igreja Lusófona e Ecclesia. Desde as equipas que foram sendo substituídas (dum lado e do outro) até ao dia e hora de emissão do programa na grelha da rádio Ecclesia. As grandes dificuldades estão principalmente nas informações que nem sempre se tem acesso. Conseguimos ter de acordo com o tema e os problemas com a Internet, o que nem sempre facilita a emissão do programa em Angola. Mas, para além dos horizontes das nossas terras, e bem para lá do Oceano Atlântico esperamos que a nossa voz se faça ecoar para juntos fazermos a nossa parte, neste mundo, que muitos querem melhorar. ( Trabalho publicado num livro do Programa " Igreja Lusofona da Radio Renascença de Portugal)

sexta-feira, setembro 29, 2006

Tômbwa, entre as dunas e a planta rara

Um dos momentos áureos da comissão instaladora da juventude ecológica de Angola na região sul( Huila, Namibe e Cunene), foi a realização de uma excursão exploratória das potencialidades turísticas da Huila e do Namibe. Corria o ano de 1999 e lá estávamos nós, prontos para dias de aventura e observação. O espírito da livre aventura, parece que andava já encubado em nós. Com carro alugado pusemo-nos na estrada. Seriam mais de duzentos kms de estrada, até chegar próximo da foz do rio Cunene no município Namibense do Tômbwa. Depois de uma paragem de algumas horas no Namibe, pusemo-nos, deserto a dentro para o município que fica no meio de dunas. São 93 Kms a sul do Namibe, numa zona deslumbrante! São areias, montes, repteis e claro a “ mirabilis”! Uma das imagens que guardo até hoje da vila do Tômbwa, é o duelo entre o homem e as areais. È que o deserto teima em continuar a sua marcha rumo ás zonas habitadas. Soterrar tudo e todos parece ser o lema. Mas os homens não podem aceitar, mesmo com dunas a atingirem mais de dois metros de altura! As plantas lançadas á terra num projecto de local arborização dificilmente chegam a idade adulta, para cumprir o seu papel de cortina florestal, porque a falta de água acentua a sua “sede”. Mas a batalha entre o homem e o deserto vai continuando, qual o frasinho David tentado derrotar o gigante Golias e o seu exercito de dunas, areais e ventos fortes soterrando tudo a volta, inclusive um cemitério. O campo santo foi assim revestido de uma nova camada de areia. A quem dissesse que os mortos foram duas vezes sepultados. Manuel Vieira

quinta-feira, setembro 28, 2006

O teatro nas radios do Lubango

Os “ Olonguende”, caminhantes em Português e os “ Kandimbas (coelhinhos) de Santa Cecília”, são dois dos mais representativos grupos de teatro do Lubango. Muito mais por carolice e hobby, é que eles vão resistindo. Faltam-lhes apoios, mas os jovens resistem os intempéries da vida. O teatro como forma de manifestação cultural, ganha no Lubango uma dimensão maior. Com o sector musical de rastos, a pintura e a escultura “respirando ofegante”, só mesmo o teatro consegue dar o ar da sua graça para não lançar para as “calendas gregas” uma das melhores e expontâneas formas de produzir uma bela arte. Para o “ boom” que se regista nesta disciplina de arte em muito contribui a radio, alias não é de hoje. Data de 1999 ou ano 2000 que realizadores, especialmente da comercial, optaram por preencher alguns dos seus espaços com diálogos sobre o teatro, encenações ao microfone, e como isso, claro, a massificação da actividade através da atribuição de bilhetes aos ouvintes, em troca de publicidade para as peças a serem exibidas nas improvisadas salas de teatro. O destaque ia para a sala da associação “ ADRA”, a custo zero. Ora, seis anos depois, visitando o Lubango pude constatar que o teatro foi a única coincidência em dois programas de uma manhã de radio. Era sábado e como se não bastasse no mesmo horário, o espaço 9H –10H. Na comercial, Radio 2000, o programa matinal era preenchido com a conversa com um actor do “ Olonguende”. Já na Radio Huila, o director artístico dos “ kandimbas”, que pertencem a missão católica do Lubango, debitava momentos de uma peça sobre HIV Sida e ao que parece tinha muita aderência. E assim caminha ( va) o teatro no Lubango, pelo menos na radio. Mas fiquei sem saber se eram os grupos que mais espaços conseguiram nas rádios ou eram os realizadores que se renderam ao sucesso desta bela arte.... Manuel Vieira

CHIPINDO: Na frente de guerra ( 2)

Na visão estratégica da altura a tomada de assalto deste município era um ponto muito importante. Chipindo, no estremo leste da Huila dá acesso rápido ao Kuando Kubango, ao Huambo e a ao Bié. É um dos três municípios que constituíam o chamado “ corredor do leste”, um conjunto de três municipalidades que facilitavam ampliar o esforço de guerra tanto para sul, como para a planaltica zona central do país. Com Chicomba, Jamba Mineira, Chipindo é composto de carreiros, picadas em planícies e outras zonas que facilitam a vida de uma guerrilha. Estes são pontos trazidos a lume numa serie de reportagens, que acompanhei pela net, do jornalista de guerra Stefan Smith escrevendo na altura para um jornal Português. E neste dia do longínquo ano de 2001, testemunhava, eu próprio, as imagens idílicas na altura trazidas ao publico por este experimentando escriba que descrevia minuciosamente tudo o que observava na região, com a diferença de que via as coisas do lado dos guerrilheiros. Chipindo era, pois, a sombra de si mesmo. Ao sobrevoar a vila naquela manhã, pudemos observar rios e regatos, bem como, a destruição das pequenas infra estruturas que o colono deixou no terreno. Até as portas foram arrancadas para aquecer as fogueiras dos soldados! Com o escurecer um cenário fantasmagórico tomava conta da zona. O capim fazia parte do cenário. A mendicidade também. Do poente avistamos os gigantes do ar de regresso. Os últimos minutos nesta “frente de guerra” serviram para memorizar todo um cenário! O regresso ao Lubango estava previsto para as 17, mas a viagem de volta a cidade só aconteceu as 18 horas. Os 500 kms foram feitos em cerca de uma hora. Os helicópteros iam cheios. Á comitiva inicial foi acrescentada mais um grupo de crianças. Os petizes iriam para um centro de acolhimento. Parentes de oficiais também seguiam e claro o resto dos dois bois semi – gordos que serviram para o nosso almoço serviriam para outros no Lubango, qual espólio de uma guerra que ( ainda) não tinha data para ser sucedida pela paz. Manuel Vieira

quarta-feira, setembro 27, 2006

Tiros de AKM contra vacinadores

A noticia daquele domingo 24 de Setembro, a noite era aterradora: “ Um grupo de três vacinadores foi surpreendido por disparos de AKM no bairro Calumbiro, arredores do Lubango”. O confrade que irradiava o facto aos quatro cantos do país tinha pormenores. Os factos ilucidavam cada vez mais, principalmente a nós que escolhemos esta “diaspora” para viver. Enquanto seguíamos a noticia entendíamos que tudo não terá passado de um mal entendido. Houve um claro excesso dos homens que dispararam. Veio a se apurar que eram guardas de uma quinta local. Os vacinadores, jovens ( desconfio que andam a procura do primeiro emprego) terão entrado para a quinta do agricultor sem aviso ou permissão, apenas com a nobre intenção de vacinar. Mas outro elemento entra em campo: o álcool. O correspondente da RNA, o confrade MESPERANÇA, dizia que os guardas, já detidos, estavam embriagados. É complicado ter álcool no corpo e arma na mão. Ainda num domingo... Felizmente os disparos apenas perfuraram a camisola branca do programa alargado de vacinação envergada por um dos jovens que distribuíam as gotas milagrosas aos menores de cinco anos deste bairro.

terça-feira, setembro 26, 2006

Chipindo: Na frente de guerra ( 1)

Os dois helicópteros levantavam. Rumavam para oeste de volta ao Lubango depois de terem, no Chipindo, deixado a comitiva de militares e policias - de alta patente e sua segurança - e jornalistas numa das mais temidas frentes de guerra de toda a região sul. Corria o ano de 2001 e a guerrilha do “ galo negro” tinha sido desalojada deste extremo nordeste faziam dez dias. Era cacimbo ( tempo seco)e o frio apertava. Os guerrilheiros apossaram-se de Chipindo durante treze longos anos. A população depauperada, vivia como podia. Longe das trocas comerciais com os grandes centros urbanos, a ( sobre) vivência só era possível pela versatilidade dos angolanos. A intenção dos “homens de armas” em levar os jornalistas ao terreno, era para constatar “ in loco” o alargamento do cordão defensivo do exercito governamental, naquele tempo em que estava no auge a lógica de “ fazer a guerra para acabar com ela”. Os doze jornalistas, em que me incluo, foram autorizados a falar com os capturados da guerrilha, com os comandantes locais da policia e das FAA e depois com o chefe da missão. Os “ escribas” eram do Lubango e de Luanda. Conhecedor da região ( afinal era na minha provincia e ai residia ) e falando o umbundu tive relativa vantagem sobre os demais. Escolhi, para entrevistar, em entre vários, um senhor de meia idade. Maltrapilho, olhos assustados, esfomeado. O homem, descalço ( suspeito que nunca usou botas militares na vida...), representava apenas um remoto exemplar de um guerrilheiro a moda africana! Falou-me num umbundu vernacular sobre as suas façanhas da guerra! Temia ser preso por muito tempo, fruto da sua captura em terreno de guerra agora ocupado pelo inimigo figadal daquele tempo. Contou-me que os seus companheiros estavam a menos de dez kms, dados depois não confirmados pelas FAA. Depois deste, ouvi outros tantos. O meu dia mais longo numa frente de guerra ia passando, ora ouvindo as estorias e historias de guerra contadas pelos oficias governamentais, ora rabiscando qualquer coisa no meu bloco de notas. As horas passavam. Mesmo em terreno hostil um agradável almoço foi servido e regado com vinho levado do Lubango. Dois bois semi- gordos foram abatidos para a numerosa refeição. Fiquei curioso em saber se o gado foi capturado dos guerrilheiros ou apascentado nas cercanias. O que era quase impossível numa frente de guerra .....

ouvintes

«Um homem que tenha algo a dizer e não encontre ouvintes está em má situação. Mas pior ainda estão os ouvintes que não encontrem quem tenha algo a dizer-lhes» (Bertolt Brecht)

O culto da voz na radio. O regresso....

A RDP quer recuperar culto da voz na rádio. A música já não é a principal atracção da rádio. A Televisão, a Internet e os Leitores de Áudio Digital (LAD) contribuíram para isso, mas continua-se a insistir em estações musicais com play lists de gosto duvidoso. Nestas emissoras, a palavra tem sido ostracizada e, para piorar o cenário de si já muito negro, os noticiários estão - segundo José Mário Costa, responsável pedagógico da rádio pública, em declarações ao jornal "Diário Económico" - «hipotecados à agenda, aos jornais feitos na véspera e às agências de comunicação». Não é de admirar, portanto, que a rádio portuguesa tenha perdido quase mil ouvintes por mês, no último ano. As novas tecnologias permitiram que o tradicional imediatismo da rádio encontrasse rivais nas televisões e nas edições online dos jornais. Uma das armas para que a rádio ainda seja um medium dinâmico e competitivo é a mais antiga forma de comunicação humana: a voz. Assim sendo, é de saudar que a RDP se baseie «no modelo anglo-saxónico da BBC e quer, a médio e longo prazo, assentar a sua informação no “tripé” editor, produtor de informação e apresentador. “O que se passa actualmente é que são os editores a apresentar as notícias, ficando sem tempo para ir atrás das notícias e para as descascar”». Será a formula certa para que a rádio recupere os ouvintes que perdeu? Se não é, pelo menos está no bom caminho. Do Blog Http/ ouvidor.blogspot.com

O fim da radio? Nunca !

“O fim da rádio não é para já”. Esta previsão é de Seth Godin, que nos apresenta no seu blogue algumas das razões porque a rádio ainda está para durar. “A ideia da rádio…a ideia de um fluxo de áudio determinado por um fornecedor externo não vai desaparecer tão cedo. As pessoas gostam”. E porquê? Simples. Os ouvintes gostam de ser surpreendidos. Uma coisa é ter música gravada num qualquer suporte (CD, MD, Cassete analógica, etc.), sabendo o que se irá escutar, outra é ouvir uma música, porventura até arredada da memória, enquadrada por um comentário do animador. É a capacidade de surpreender com o jogo música/palavra que estimula a imaginação de quem sintoniza uma emissora, criando assim um elo emocional agradável entre os ouvintes e a estação radiofónica. É isto a magia da rádio.

sábado, setembro 23, 2006

"Memorias de um guerrilheiro" Orlando Castro

Acabei agora de ler o livro “Memórias de um guerilheiro” de Alcides Sakala, meu velho e querido amigo dos tempos (entre outros) dos bancos da escola no Huambo. Para além de outras considerações, a leitura lembrou-me um artigo de Eugénio Costa Almeida, recentemente publicado no seu http://pululu.blogspot.com/ em que afirma que “independentemente das simpatias partidárias ou do carácter dos mesmos, existem (para além de Agostinho Neto), pelo menos, mais dois grandes líderes que devem gozar do estatuto de Herói Nacional: Holden Roberto e Jonas Savimbi”. Quem ler o livro, ultrapassando as gralhas, as repetições e a descuidada revisão, compreenderá porque, sempre que falo de Jonas Savimbi, recordo a frase que ele me disse, em 1975 no Huambo e a propósito da sua determinação em defender os milhões que têm pouco em detrimento dos poucos que têm milhões: «Há coisas que não se definem - sentem-se». Quem ler o livro compreenderá porque, no seu primeiro discurso como presidente da bancada parlamentar da UNITA, Alcides Sakala disse: "Vivemos numa sociedade marcada pela riqueza excessiva de uns e pela pobreza extrema da maioria». Alcides Sakala tem a sabedoria de quem sentiu, tantas e tantas vezes de forma dolorosa, os dois lados da História de Angola e, honrando esse conhecimento, luta para que os milhões que têm pouco passem a ter algo mais. Juntando a experiência das matas à dos grandes areópagos da política internacional, Alcides Sakala mostra que nunca se esqueceu que Angola não se define – sente-se. E de uma coisa todos podemos ter a certeza: Alcides Sakala sente Angola como poucos, como muito poucos. Sente Angola como a sentiu o Mais Velho. Orlando Castro

sexta-feira, setembro 22, 2006

REVISTA LUBANGO

Um dos grandes desequilíbrios por mim sentidos, na recente visita que efectuei ao Lubango, foi a gritante falta de informação. Uma falta sentida por um cidadão médio da capital da Huila no dia a dia. O desencanto era menor, no entanto, porque decidi nestas ferias desligar-me das noticias e concentrar-me em trabalhos de investigação histórica sobre Caconda, a vila onde nasci. Mas o vazio informativo, mesmo assim, não foi ultrapassado. Os meios de comunicação social estatais ao que parece estão num “ocaso latente”. Os jornais privados chegam em numero bastante inferior, isto quando chegam. A radio alternativa, a comercial ainda precisa de uma terapia de choque para encontrar o seu norte, depois da sangria que sofreu, levando sarjeta abaixo os laivos da “ independência” da informação e engenhosidade dos fazedores de opinião da altura. Ora, a denuncia, o cruzamento da informação, a opinião de actores sociais diversificados são coisas do passado. Hoje o privilegio vai para o “ politicamente correcto”. Nesta analise, tentei me colocar no lugar do mais comum dos cidadãos. Aquele, que por força destas circunstancias, já não participa nos grandes acontecimentos da sua terra. A imensa Angola é retractada apenas num sentido, o oficial. A Huila, é opinião unanime de quem a conhecei entre 1995 a 2005, regrediu alguns passos no que toca a liberdade de informação. Estes dez anos foram, amiúde, descritos como os tempos áureos para o fomento da imprensa regional. Mesmo com poucos incentivos, a “carolice” de alguns escribas satisfazia as necessidades de informação do grande publico. A critica, velada ou aberta, era uma constante. A submissão era rejeitada. Claro que não estávamos perante realidades tão distantes como aquelas transmitidas pelo jornal local OMUKANDA, do falecido Miguel, o Kassana ou o César André, mas a informação na Huila era válida. O ocaso que se regista hoje é, no entanto, ligeiramente sacudido por uma publicação local nova , conhecida como REVISTA “ LUBANGO”. O magazine tem qualidade, com altos custos. Redacção local, impressão no estrangeiro e toda colorida. Um exemplar me foi oferecido, por um dos jornalistas percursores da iniciativa. Fui informado que devia ser de âmbito municipal, retractando apenas o Lubango, mas depois foi “ abocalhada” pelo governo provincial. Nada mau. O fomento da imprensa regional volta a ganhar fôlego, mas como se nota só informação oficial pode ai parar. A revista tem qualidade, bons jornalistas, mas( ainda) não satisfaz a necessidade de informação na Huila. Bem haja a iniciativa e que viva muito tempo a revista Lubango.

quinta-feira, setembro 21, 2006

Um recado para a " FBM - agua da Chela"

DE UM INTERNAUTA RECEBI ESTE EMAIL: " Atn. Manuel Vieira- Angola Buscando en Internet la direccion de Agua de Chela, aparecio su blog y despues de leerlo y ver su lema " la suerte persigue a los audaces " me he permitido en nombre de mi compañia, el dirigirme a Ud. para contarle que nosotros estamos interesados en contactar via e-mail si es posible, con la Compañia Agua de Chela, porque nuestra empresa trabaja en el Sector de la Industria de Aguas Minerales, - Diseña, cosntruye y monta Lineas completas para el embasado de Agua Mineral,- quisieramos saber como contactar con esta industria. Aunque veo que Ud. no se dedica a este negocio, si por su mediacion pudieramos realizar este contacto y comenzar algun proyecto, Ud. tambien podria participar de algun beneficion economico. Si quiere contestar sobre este asunto, tiene mi correo electronico arriba. Un cordial saludo de un Ingeniero "audaz " Ing. Jose L.Avarez "

E a Huila ai pertinho ....

Um arejado governador do Cunene apareceu, nesta quinta 21, aos microfones da radio do estado, dizer aquilo que há muito já se dizia, mas que como quase tudo neste país, infelizmente, deve ser assumido primeiro pelas lideranças politicas e depois o " povo em geral" fazer (?), se possivel, a sua parte. Pedro Mutindi, disse, palavra menos palavra, que cerca de dez por cento da população do Cunene está infectada com o virus da morte, SIDA. A igreja já denunciou, ninguem ligou; as Ongs alertaram fiseram ouvidos moucos. Contudo, " mas vale tarde do que nunca". O governador, arejado como já disse - conhecedor da provincia ( alias lá anda a mandar a mais de 25 anos !!) - disse ainda que quem não está infectado, está pois claro afectado. Nada mais certo... Com o alcance da indepdencia da Namibia, a prostituição aumentou exponecialmente na fronteira com Angola. Jovens houve que desistiram de tudo no Lubango e rumaram para dar o corpo na fronteira. Pior, com a falta de oportunidades na Huila, o Cunene era solução para muitas (os). E agora, nota-se a solução! Se o Cunene está assim, fruto da circulaçao facil com a Africa do sul, com o Botswana e com a Namibia, quem arrisca a falar sobre a prevalência na vizinha Huila.È que a Huila é ai tão pertinho ... Manuel Vieira

Um criador de emoções!

Folheando mais um obra do nosso " Camões", Artur Pestana, reavivei por momentos o meu primeiro encontro com o homem das letras. Foi numa terça feira, no inicio do ano. Depois dos contactos preliminares lá fomos ( com o companheiro João) ao encontro de Pepetela. Proposemos uma hora de entrevista para o programa " discurso directo" da catolica. Dez horas e lá estavamos nós no portão de uma vivenda no Miramar, um dos mais "chiques" bairros da capital, onde de uma só sentada encontram-se embaixadas, sedes de empresas de monta e até a nova casa do " boss cá do sitio"! Uma jovem veio ter com os escribas e segundos depois estavam no interior da moradia. A humildade do sociologo, convertido em celebre escritor foi a primeira nota que me passou pelos olhos. Começamos por falar de tudo um pouco, mas depois o fio condutor da entrevista foi reafirmado, recomposto.Falamos do " Predadores", o livro que devia sair na epoca. Ficamos a saber que Pepetela é quase alergico a entrevistas. Ficamos a saber, também, que o livro seria um " retracto mordaz" da realidade conteporanea, passeando pelos mais variados assuntos da vida nacional tendo na trama um "trambiqueiro politico", um prototipo dos vorazes dos dias de hoje. Uma entrevista memoravel para alguem , como eu, que passei o fim da infancia e boa parte da adolescencia viagando nas "letras esculpidas" em obras como " As aventuras de Ngunga", " LUeji" ou " Maiombe". Pude satisfazer curiosidades e perguntar o que quis. O homem discorreu sobre a politica e o seu desecanto, o 27 de Maio, o poder popular, os jornalistas, os escritores e o mundo de hoje, o vinho, a minha Huila, o gado, o conflito de terras e por aí alem.... A entrevista seria feita em uma hora, mas ficamos mais tempo. Parece que o professor Pepetela chegou mesmo a faltar em algumas aulas que devia dar! Ao sair do local fiquei com a posiçao reafirmada de que estava, realmente, ao lado de um dos mais importantes " criadores de emoções" literárias deste país. Manuel Vieira

Radio 2000: um caso (ainda) sem solução!

O Tribunal Provincial da Huíla ainda não se pronunciou sobre o processo de conciliação remetido pelos advogados dos jornalistas despedidos da «Rádio 2000» no começo deste ano. Segundo uma fonte familiarizada com o processo, contactada pela Voz da América, o prazo razoável para que se produza um pronunciamento para casos do género é de 30 dias e este tempo já venceu há bastante tempo. Um braço de ferro entre um grupo de trabalhadores daquela estacão emissora privada instalou-se desde a manhã do dia 5 de Janeiro, quando jornalistas e outro pessoal de serviço decidiram paralisar a sua actividade, por 24 horas, alegadamente para forçar a direcção da rádio a satisfazer reclamações apresentadas num caderno reivindicativo havia já dois meses. Entre estas reclamações constavam aumentos dos salários dos trabalhadores, a melhoria das condições técnicas de trabalho e ainda uma mudança do quadro social do pessoal da única rádio privada da província da Huíla. Face à insensibilidade da direcção perante as reivindicações apresentadas, os funcionarios concluíram que não havia uma boa condição relacional entre patronato e trabalhadores pelo propuseram ainda a substituição da direcção, encabeçada então por Horácio Reis, da «Rádio 2000», como ponto fulcral para o sanar da crise de direcção e comunicação que se vivia. Apesar da intervenção de influentes membros do grupo GEFI, gestora do império económico do MPLA, com acções na rádio, a situação não veio a conhecer melhorias substanciais, pelo que a crise continuou até que uma nova paralisação foi decretada dois dias depois em solidariedade com os colegas suspensos pela nova direcção encabeçada já por Manuel Bartolomeu. A suspensão recaíra sobre os jornalistas Teodoro Albano, Mário Silva e Cláudio Dias que depois foram intimados a comparecer na Polícia de Investigação Criminal local para prestar declarações, alegadamente porque teriam sabotado e destruído meios da estação emissora. O novo director também havia dado mostras de que recorreria a funcionários da emissora provincial local para garantir a emissões da radio 2000, facto que preocupou e levou a intervenção da representação local do Sindicato dos Jornalistas Angolanos. (Eugénio Mateus)

sábado, setembro 16, 2006

jornalimo do futuro

O «New York Times» noticiou que o organismo responsável pela medição das audiências nos Estados Unidos, o Audit Bureau of Circulations, decidiu juntar os números da leitura dos jornais na Internet à audiência das vendas em banca. Na primeira fase, estes novos dados de audiência – que resultam da soma do tráfego na Web com a leitura das edições em papel – vão ser disponibilizados apenas aos títulos especializados na área do negócio. O sistema tem de ser afinado, para evitar que o mesmo leitor seja contabilizado duas vezes: uma por ter comprado a publicação na banca, outra por ter consultado o site da mesma na Internet. Embora essa dupla acção não deixe de, na realidade, contar como um índice de audiência real. O certo é que estamos perante mais um sinal da importância crescente dos jornais e revistas na rede. Ao ponto destes já contarem para os níveis de audiência dos títulos. O que de resto já devia estar a acontecer há muito. Miguel Martins Editor de Multimédia do EXPRESSO

WORLD TRADE CENTER

World Trade Center de Oliver Stone com Maria Bello, Connor Paolo, Anthony Piccininni, Alexa Gerasimovich, Morgan Flynn, Michael Pena, Armando Riesco, Jay C. Flippen, Nicolas Cage e Michael Pena (Estados Unidos 2006) Dias depois do atentado de 11 de Setembro de 2001, no "Ground Zero" os bombeiros ainda esperam resgatar sobreviventes. Presos nos escombros estão dois agentes da Autoridade Portuária. Mas as coisas correm de mal a pior. Sem papas na língua, como é seu hábito, Oliver Stone narra bem à sua maneira o maior atentado terrorista perpetrado em solo americano.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Dos Não-Tão-Modernos-Como-Isso

O mais que puderes E se não conseguires fazer da tua vida o que queres, então pelo menos tenta, o mais que puderes; não a menosprezes no contacto abundante com o mundo, nas muitas acções e palavras. Não a menosprezes no vaivém frequente, expondo-a à estupidez diária de relações e amizades até que se torne um fardo estranho. Konstandinos Kavafis, 1905. Tradução de Carla Hilário Quevedo. (Traduzi este poema pela primeira vez em 1996, em Atenas. Esta é a quarta versão e não será a última.)

O repórter com que o editor sonha

CRONICA PUBLICADA A DOIS ANOS PELO JORNAL DE ANGOLA, MAS SEMPRE ACTUAL Prólogo: Erva daninha atrofia as flores e compromete a qualidade do mel! A primeira vez que entrou para uma redacção, saiu de lá decepcionado. Eram 16 horas e a porta principal abria e fechava-se constantemente. Um jornalista chegou com o rosto e a roupa cobertos de poeira. Parecia louco! Entrou em passo de corrida, procurou uma máquina, sentou-se, desfolhou um bloco de notas e começou a escrever. Mal havia começado, foi logo interrompido pelo colega do lado. Pela roupa e autoridade de um e pela sujeira e humildade do outro não teve dúvidas: um era chefe e o outro, subordinado. A decepção surgiu, contudo, quando constatou existir discrepância entre o que lia nas páginas do Jornal e o que ouvira durante a sua curta permanência naquele lugar “caótico”. Pensou então: “Não é possível. Afinal, jornalista pensa como nós!!!” Só mais tarde entendeu: 1º - Um era editor e o outro, repórter. 2º- Repórter não escreve o que pensa, mas narra factos ocorridos. Assim nasceu a sua paixão pelo jornalismo. Foi amor à primeira vista! Se hoje lhe perguntassem o que era o jornalismo, responderia: “é um pântano; quanto mais nos mexemos, mais nos entranhamos nele. Felizmente, a gente nunca está só!” A produção da notícia implica um trabalho de equipa, onde se envolvem todos, desde o pauteiro, motoristas, repórteres, fotógrafos, câmaras, paginadores, a arte e revisores, etc. A cumplicidade entre editores e repórteres permite um planeamento afinado da estratégia de ataque! Um carreto mal engrenado é um problema para o funcionamento da cadeia. Nessa cadeia salientam-se três etapas cruciais: a pauta, a apuração e a edição. “Tudo o que vem antes não é notícia; tudo o que vem depois não é jornalismo em sentido estrito, pois é gráfica e distribuição”(BASILE, 2002, pág. 95). Sendo assim, a qualidade da notícia a divulgar começa na capacidade imaginativa e criativa de quem vai elaborar a pauta ou o roteiro que contém uma série de hipóteses (boatos, denúncias, versão de uma notícia, telefonemas de leitores, ouvintes ou telespectadores, etc.), a confirmar ou não pelo repórter. Este deve orientar-se pela preocupação de levantar enfoques diferenciados sobre os temas, buscar ângulos novos de abordagem e mostrar agilidade na identificação de novas tendências. Através de leituras e pesquisas, o órgão de informação pode mesmo antecipar a abordagem de um acontecimento. A etapa seguinte é a de apuração: é aqui que entra em campo o “garimpeiro da informação”, o repórter. O repórter é o rosto visível dos jornais, rádios e televisões, pois é com ele que o público e as fontes têm contacto. O sonho de todo o jornalista é ser repórter, pois é esta a ocupação mais “prestigiante” nos meios de comunicação. (Dizem que quem chega a editor está perto da idade de reforma). Os repórteres, contrariamente aos editores, fazem sucesso junto da audiência e têm uma cadeia de fãs e um bloquinho com contactos telefónicos de fontes, desde a kínguila a ministros, generais eminentes, empresários, artistas famosos! Fazem inveja a qualquer um! Como soldado de um exército em derradeira ofensiva, eles envolvem-se na batalha pela notícia. Deles depende, em grande parte, o sucesso ou insucesso de uma edição. Por isso, é compreensível que todo o editor queira reunir em seu torno os melhores repórteres que a redacção possui. Mas isso é um sonho, difícil de concretizar, sobretudo em África, onde a imprensa ainda não é normalmente um negócio rentável. Raríssimos são os empresários que investem no ramo da comunicação. Como consequência, as dificuldades acumulam-se nas redacções do continente: os salários não são atractivos, há falta de estímulos, de transporte, de computadores e de escolas conceituadas de jornalismo, para além do preço elevado do papel, da impressão e das ligações telefónicas, acesso difícil ao crédito bancário e às fontes. Tudo isto afugenta os melhores profissionais, que buscam áreas circunvizinhas do jornalismo, como a assessoria de imprensa, ou então optam pela diáspora. A tendência do jornalismo, herdada do séc. XX, é a especialização, sobretudo, com a crescente segmentação da informação. Aliás, quem está habituado a ler jornais em Angola da primeira à última página, entraria em pânico quando comprasse o Washington Post ou O Globo, cada um deles com mais de 70 páginas, com matérias atractivas e devidamente estruturadas. Os consumidores de informação lêem, ouvem e vêem aquilo que lhes interessa. Quem gosta de desporto vai primeiro canalizar a sua atenção para esse espaço e só depois procura dar uma espreitadela em outras áreas. Por isso, é imperioso o aprofundamento no tratamento das notícias a divulgar em cada editoria que compõe a redacção, para atender a essa crescente segmentação. A vinculação do repórter a uma editoria é caminho aberto para a especialização. A especialização é definida como o resultado da divisão de trabalho. “Trata-se do conhecimento específico de determinado indivíduo sobre determinada área. No Jornalismo, para que se consiga precisão e aprofundamento, a especialização é requisito importante. Contudo, é preciso estar atento, pois, em princípio, o texto jornalístico não deve distanciar-se do leitor, mas, ao contrário, deve ser claro o suficiente para ser entendido pelo leigo, e profundo o bastante para ser útil ao especialista” (Manual escolar de redacção, 1994, 69). É claro que todo o jornalista tem a obrigação de saber redigir um texto, anunciando o vencedor de uma partida de voleibol, mesmo sem saber as regras do jogo. Mas não se escreve sobre buracos na estrada do mesmo jeito que se redige uma informação sobre macroeconomia, por exemplo. O repórter de que os editores gostam é inteligente, curioso, comunicativo e corajoso. Na posse da pauta, ele procura munir-se do máximo de informação sobre o assunto a abordar. Caso tenha ainda algum tempo, fala com o editor e com colegas de outras áreas, testa o equipamento(gravador etc). A Internet é um instrumento importante para pesquisa. Só depois vai atrás da confirmação das hipóteses levantadas. Mas não se detém apenas na pauta. Busca por iniciativa própria outras abordagens interessantes que tenham surgido ao longo da apuração. Tem faro para a notícia e descobre o gancho noticioso em factos ou discursos aparentemente banais. É obcecado pela verdade e por isso, duvida de tudo e de todos e sabe questionar! Quando sai à rua, o editor está descansado, pois “vem sempre coisa boa”. Mesmo numa conferência de imprensa, ele consegue ter um ângulo diferente e com valor mais noticioso. Tem porte físico e saúde para as correrias e embates. É incansável! Não fica todo o tempo a choramingar: “Não consegui, porque o ministro não quis falar...” Entretanto, o bom profissional diz: “ O ministro X não falou, mas falei com Y e a notícia está aqui”. É gente que faz. Aquele tem lágrimas, este tem alternativas. Não tem medo de perguntar. Está sempre atento e raramente é desmentido. Está no lugar certo, na hora certa. Lê jornais, livros e revistas, ouve emissões das rádios e vê a programação de estações de televisão. Está informado e o seu bom nível de cultura geral não o deixa cair. Álcool em horário de trabalho, nem pensar! Age com serenidade e tem tacto no relacionamento com a fonte. Sabe escrever bem e não mistura texto informativo com opinião, um erro frequente na imprensa angolana. Escreve com simplicidade e clareza. Não escreve “O gigante adormecido anda paralisado...”! Não “afina”, o que entende aliás como ofensa, sobretudo num país com mais de 70% da população analfabeta. Redige tudo sobre o que viu e ouviu, sem medo de não agradar o editor. Sabe pegar o ângulo mais importante do facto e apresenta mesmo ao editor sugestão de pauta para novas abordagens. O repórter com espírito de equipa cria, durante a reportagem, bom ambiente de trabalho. Incentiva fotógrafos e câmaras a procurar boas imagens e melhores ângulos. Investe em equipamento e na sua formação (línguas, informática, etc). Não vê isso como desperdício, mas como investimento. Que editor não adoraria ter um repórter assim? Os tempos estão maus, mas como diz Luiz António Mello, autor do Livro Sobrevivência na Selva do Jornalismo, “Sonhar é um direito assegurado pela Constituição”(MELLO, 1998, 48). Por isso, se ainda não tem, sonhe em comprar um telemóvel, um computador pessoal, ainda que usado, e compre um carro, um Toyota Starlet já dá jeito! Uma máquina fotográfica, digital seria ideal. Mande elaborar cartões de visita, pois são de grande utilidade. Se não tem carta de condução, matricule-se já. Com todos estes meios, o repórter estará mais tranquilo, pois é facilmente localizado e pode pontualmente estar em qualquer lugar, quando chamado de urgência. É na cumplicidade entre editores e repórteres que repousa, em parte, a longevidade e o prestígio de muitos órgãos de comunicação! Não esqueça de actualizar o passaporte e boa viagem! Estou a vir, ainda! * Augusto Alfredo, Licenciado em Comunicação Social, é Editor de Economia do “Jornal de Angola”, E-mail: augustoalfredo@hotmail.com Bibliografia: 1- BASILE, Sidnei. Elementos de Jornalismo Económico. RJ. Campus, 2002. 2-MELLO, Luiz António. Manual de Sobrevivência na Selva de Jornalismo. 2ª Edição. Niterói, RJ: Casa Jorge Editorial, 1996. 3- Manual escolar de redacção da Folha de S.Paulo. S.Paulo: Ática,1994.

AS LAGRIMAS DE TETA

Teta Lagrimas, um dos músicos angolanos com um carreira incólume e solida, veio á terreiro, nos últimos dias, denunciar o que praticamente já não passava na cabeça do grande publico: CENSURA. Teta, reclamava como que com lagrimas a escorrem pelo seu rosto, a existência de censura musical no país, ainda que encapotada. Censura, dizia ele na radio pública e na generalidade do seu gigantesco grupo. Em causa, segundo o musico, está apenas uma faixa do seu ultimo disco. A obra tem o interessante titulo GENUINAMENTE, marcando o seu regresso a ribalta. A canção da alegada censura é genuína, actual e mais uma daquelas criticas sociais em falta no pais, para a reflexão profunda sobre o que queremos da Angola do futuro com a exclusão social, o enriquecimento ilícito, a voracidade de alguns e o sofrimento da grande maioria das pessoas que hoje vegetam nos arredores das grandes cidades. Sem oportunidades. Com a miséria a servir de companheira fiel nos dias negros por que passam. Alguém diria isto é Angola.... Mas, Teta, diz mais. É profundamente incisivo neste trecho censurado. Na musica “Quero ser político” ele é lapidar. Começa com a historia de mais um deserdado, um “ demolido”. Não só a sua habitação é lançada para o chão pelo martelo demolidor, mas também as esperanças de ser alguém caem por terra. O homem tenta de tudo por voltar a ser alguém. As oportunidades lhe são fechadas. Ele se questiona “ trabalho, por que te quero!” Vira marginal, mas a policia corta-lhe os passos. Sobrevive de coisas arrojadas, mas o caminho é “ movediço” demais para ele. E por fim, fica a triste constatação de que “ esta não é a independência que sonhou”. No fundo mais uma constatação de um antigo combatente de uma geração que acreditou na utopia de igualdade social, sem exclusão e sem o roubo descarado do que é publico, depois da conquista da liberdade facilitada pela fuga dos colonialistas Lusos. Vendo as portas da vida fechadas, o homem da musica, genialmente retractado no semba de Teta, tem apenas um sonho, legitimo. A solução, encontrada no calor da desilusão, é ser político. Afinal, diz ele, ser político é que está a bater. “ Os políticos têm de tudo um pouco. até exibem o que conseguiram”, diz o musico, para completar que muitas vezes recorrendo as mais capciosas praticas. Estas são algumas das lagrimas de Teta. Lagrimas censuradas, mas, no reverso da moeda, publicitadas, porque agora, qual fruto proibido, mais gente procura ouvir o semba da geração da utopia e claro dos políticos.

O CAN DO OPTIMISMO

Minutos depois de Angola ser indicada para acolher do CAN 2010, um muito optimista amigo meu, mandava mais uma vez s.m.s., reflectindo, assim, a sua incontida alegria. Este amigo meu, por sinal jornalista, volta e meia, manda mensagens pelo telemóvel, sempre que há vitorias nossas no desporto. Ele é de um optimismo contangiante. E naquela segunda feira, 4 de Setembro, mais uma vez não fugiu a regra. Dizia ele que “ Angola só ganha. O que teremos feito para essas bênçãos. Será a paz. Viva Angola”, rematava. Acredito que como eu, umas milhares de pessoas ficaram felizes com a escolha do nosso pais. Mas, infelizmente, a pratica quotidiana, ensinou-me a ter uma felicidade moderada. Falam-se de obras monumentais a serem erguidas, mas ainda não foi anunciada a possibilidade de concursos públicos para sua realização. Quem vai erguer os hotéis, melhorar as estradas, facilitar as comunicações, tratar do credenciamento dos jornalistas e delegações, a higiene dos estadias, a segurança alternativa á policia nacional , a manutenção física destas infra estruturas depois do seu acabamento, o transporte de delegações para Angola e pelas cidades que vão acolher, a criação de de bilhetes, o cartering, a energia eléctrica alternativa, a criação de mascote, a venda de brindes nos estádios e fora deles, etc., etc.???? Temo, pela pratica quotidiana, que muitos já estão a constituir empresas para gerir alguns desses serviços. Temo também que a pratica do trafico de influências não será desprezada, pois está aberto o filão e ainda estamos a quatro anos do CAN. Será que já se pensa na realização de concursos públicos para a prestação dos serviços aqui referidos??? Enquanto a pratica não muda, prefiro ter um optimismo moderado, contrariando ligeiramente as palavras calorosas e contagiantes do meu velho amigo jornalista, colocado no interior do pais. Que a onda de triunfalismo não nos faca esquecer o básico, que resumo em organização com transparência para que de facto, “ viva Angola”, com diz o Teodoro.

Luanda revisitada. Baía cloaca

Em 1997 fiquei um mês e tal alojado no Hotel Meridien Presidente, em Luanda. É o edifício mais alto de Luanda, mesmo em frente ao porto, com vistas sobre a baía, o mar e a cidade que seriam deslumbrantes se aquilo fosse bonito de se ver. Só que não é… para além dos musseques, do pó no ar, a baía de Luanda está tão poluída e maltratada que olhar para aquilo mete nojo. Nesse ano, lembro-me de uma tarde em que estava no bar do hotel e escutei uma conversa entre dois tipos que negociavam um “esquema” de ambos ganharem dinheiro. Um era angolano e o outro estrangeiro, branco, com sotaque de inglês. O branco tinha navios velhos para vender ao preço de quase novos, o preto ia encarregar-se de falcatruar as papeladas e encontrar quem comprasse os navios. Acabei por não perceber de que tipo de navios falavam eles, se seriam barcos de pesca ou cargueiros, graneleiros ou porta-contentores, mas para o caso pouco importa. Agora, nestas férias que fiz em Luanda, dei uma volta de barco pela baía… e, lá estavam eles, os navios acabados vendidos ao bom preço de quase novos. Uns afundados, outros semi-submersos, outros tombados de bordo, outros comidos pela ferrugem, todos sem préstimo nem valor. São dezenas de navios que alguém pagou e pouco usou. Imagino que tenha sido o estado angolano… porque não acredito que algum privado tivesse embarcado naquilo. Mas aposto que todos aqueles navios pertencem a empresas estatais, empresas governadas por corruptos amealhadores de comissões e pouco interessados no bem comum. Luanda liquefaz-se na baía. As escorrências da cidade descem, lenta mas livremente, e desaguam ali. Os líquidos pútridos misturam-se com os óleos e a ferrugem dos naufrágios... branco e imaculado, só o yacht presidencial amarrado na base naval. Ah!, mas cuidado! Não podes fotografar!, avisaram-me. A água da baía de Luanda é escura e viscosa. Doentia. Por Carlos Narciso ( www.blogda-se.blogspot.com )

quinta-feira, setembro 07, 2006

O DIA DO BLOG

Você sabia que existe o “dia do blog”? Já existe um dia do ano para comemorar os “blogs”. A data será comemorada no próximo 31 de agosto e foi escolhida pois 3108 lembra a palavra blog. Durante o “BlogDay” blogueiros de todo o mundo farão um post para recomendar a visita a novos blogs, de preferência, blogs de cultura, pontos de vista ou atitude diferentes do seu próprio blog. Nesse dia, os leitores de blogs poderão navegar e descobrir blogs desconhecidos, celebrando a descoberta de novas pessoas e novos bloggers.

sábado, setembro 02, 2006

O GENERAL QUE RECUOU

O mês de Maio de 2002, no Lubango, anunciava um rigoroso cacimbo. Com paz nova, esperanças renovadas. Isto apesar de algumas dessas esperanças serem profundamente idosas, tal como cantou um dos mais célebres músicos angolanos. Era moda os campos de aquartelamento, comissões mistas, viagens aos locais onde estava o pessoal daquele lado e tentativas de integração total dos milhares de homens que andavam errantes pelo país, qual guardiões de uma causa que apenas poucos conheciam a génese, a essência. Como acontecia com frequência, tanto depois da paz, assinada, ou mesmo nos últimos 4 anos de conflito entre irmãos desavindos, o comando local das FAA elegia repórteres para a cobertura de eventos estratégicos. Parecia que a norma era, quanto mais longe ia a mensagem melhor era para o generalato da frente militar sul. Homens, estes, enclausurados nas redomas das suas constelações ostensivamente ombreadas para soldados e para os soldados da caneta. A meio do quinto mês , no ano que devolveu a paz para a maioria o território nacional, mais uma vez fomos convocados. Trabalhava como correspondente para a Radio Ecclesia e Voz da América, colaborador no pequeno jornal local SANAPRESS e efectivo na Radio Comercial 2000. Solicitado para ir, melhor para mim. Antes já tinha andado com os mesmos militares em varias frentes avançadas de guerra. ( Exemplo Chipindo 2001, de que escrevo em próximas memórias..... ) No Lubango, as comissões das FAA e das FALA reuniram por cinco horas. O encontro foi nos descrito como cordial. A meio da tarde as delegações decidem partir, sem jornalistas, para um campo de aquartelamento localizado no Chipindo. Mesmo com os protestos de alguns jornalistas presentes, o helicóptero levou apenas militares de alta patente e dois repórteres de imagem, um cameraman e um fotografo. Horas depois, eis o regresso e a conferencia de imprensa com a revelação mais bombástica daquele tempo. O poderoso general da região revelava aos microfones de vários jornalistas que morrem 5 homens do galo negro por dia e na data já 45 tinham perecido. Pela gravidade do assunto, ao cair da tarde revelo a Ecclesia e Radio 2000 os acontecimentos. O eco parece grande na tal sexta feira. Sou solicitado para mais dados sábado. A informação volta a carga a Voz da América, segunda feira. Porem, terça feira, a direcção provincial de investigação criminal manda um oficio para que, por crimes contra a segurança do estado e difamação ,responda. Dai é um passo. Investigador intimidatorio, AKM na sala de interrogatório, revolver no colder, perguntas que indiciavam manipulação dos dados por parte do escriba e a inépcia do homem que vergava um garboso fato azul, mas, contudo, incoerente até com o mais comum dos verbos legados por um Camões distante na historia desta magica língua. O “ tac tac” da velha maquina de escrever do escritório policial era a única coisa que quebrava ritmo acelerado do meu coração. Mas contudo, nada de solidariedade por parte dos outros homens de imprensa, até mesmo para a comercial onde dava o litro. O interrogatório foi moroso. Cansativo mesmo. Foram horas. Hora de volta para frente e outras de vai, mais para trás. Fui mandado em “ paz” , depois de assinar as minhas declarações. Antes fui advertido que, a qualquer momento, poderia ser chamado para novos dados. Gelei ao ver que o homem, apesar de ser de má catadura, nada inventara. Assinei, preparado para falar aos amigos desta aventura que se transformou rapidamente em noticia no país. Volto ao local de trabalho efectivo ( Radio 2000 ) e avanço, em privado, os meandros da investigação. Nada de solidariedade.... Foi depois do almoço que me ocorre recorrer ao ultimo recurso quando o cerco de um escriba, honesto consigo próprio, se aperta. Recorri a arma da denuncia, qual naufrago a busca de uma ultima tábua, bóia de salvação. Ligo para Luanda para a redacção central da católica. Anuncio o processo, número e tudo. Concordo em fazer uma entrevista. Para alem do processo, concordo em repassar o registo magnético com as declarações da polémica. Felizmente estavam guardadas copias em locais seguros. O diabo poderia tece- las. O impacto foi inesperado. Surgiram telefonemas com a solidariedade de poder contar com advogados. Organizações de defesa dos jornalistas ficam preocupadas com o assunto( ver relatório “reporteres sem fronteiras 2002”) Como era lógico, a católica fez alarde informativo com a entrevista e as palavras do “todo poderoso” eram lapidares, directas e profundamente lógicas para a peça jornalística produzida. A investigação criminal convoca-me novamente, mas antes solicita, por escrito, a cedência da gravação com as declarações da polemica. Com a autorização da direcção da comercial, entrego o registo em K7. Assim que chego ao temeroso gabinete dos crimes selectivos e contra a segurança do estado, o investigador era de todo sorrisos, dizendo, palavra mesmos palavra, que " com jornalistas parece não se brincar" . Incrédulo, perguntava aos meus botões o que e que se passava. Antes mesmo de poder reorganizar os pensamentos, o homem diz sem rodeios: " Pode ir em paz, bom trabalho. Temos ouvido os teus noticiários" . Olhei para o funcionário do estado, sem entender. E ele em segundos foi lapidar: " O general retirou a queixa... "

LUBANGO: " SAUDADES DE QUEM TE AMA...."

Lembrei dum trecho de um poema de Vinícius de Morais para “taxar” (?) , com palavras, mais uma leve presença no meu Lubango natal. Saudades, porque ao chegar há a expectativa e ao sair daquela urbe começa a saudade com a expectativa de ao voltar, sei lá quando, encontrar a zona mudada, sempre para melhor, espero. Desta vez, longe da minha iniciativa, fiz mais uma vez gosto ao microfone na comercial local, apresentando o magazine central local. Mesmo mudada, a Radio 2000 continua a mesma... Apesar dos rótulos que os pouco resolutos lançam a quem ousa ter ideias diferentes, tal como as minhas. Sei que acontece o mesmo quando se tenta brilhar num meio onde há ideias tacanhas. Houve quem aproveitasse para dizer que este pobre escriba tinha ideias estranhas no seu regresso a cidade jardim de Angola.... Coisas para esquecer!!!! Estive com a familia do peito.Senti um aperto no coração ao ver moldadas as "fisionomias" das rendondezas... Convivi com jornalistas, num curso, digo de passagem, que fez com que o passado voltasse a minha memória. Eram tempos de debate e conversa. Desta vez não voltei ao Cristo rei no cimo da SERRA DA CHELA, mas a objectiva da minha Kodak digital trouxe o redentor aos meus olhos. A Tundavala ficou longe do meu roteiro, mas a imagem foi avivada com o serpentear das montanhas observadas na mais cintilante cordilheira de que tenho memória, guardada bem fundo. Passei pouco pelos arredores do Lubango, mas deu para andar por trilhos pedregosos no Sofrio, um dos bairros mais próximos da Chela. Não cobri as corridas de automóveis , como era meu desejo, mas observei a abertura da Feira do Gado e da Expo Comercial e industrial. ( Soube depois que as corridas- como chamamos - foram fatalmente más, por mais pessoas terem sido mortas no domingo do meu regresso a selva urbana) Vi gente ida de Luanda pavonear se no alto do seu poder económico. Na sua maioria eram titulares de cargos públicos ou seus parentes. Notei, também, a humildade que faz o povo da Huíla trabalhador. Observei mumuilas indiferentes as festas de Senhora do Monte, lembrando apenas que precisam do seu ganha pão de todos os dias, vendendo e trocando produtos agro pecuários. Viajei, de avião, com turistas de ocasião. Câmaras digitais no peito, procurando os recantos que a guerra, felizmente, não ousou apagar no Lubango e arredores. Gente de Portugal, Argentina, África do Sul e de mais longe ainda. Quando ao avião voltei a subir em direcção a Luanda, senti que as saudades já tinham começado. Foi ai que senti o impacto das palavras eternizadas no poema do celebre Vinícius. Ele diz” Pátria minha/ saudades de quem te ama” . E eu com a devida vénia digo. “ Lubango meu, saudades de quem te ama......”

sexta-feira, setembro 01, 2006

A verdade de todos os dias

Todas as noites as estrelas me ensinam que a seguir a amanhã e depois de amanhã elas continuarão no seu lugar" Luís XIV, O Nascer do Sol, I vol. (2005, Ed. Bertrand) por Jean Pierre Dufreigne (pg. 51)

Um invulgar exemplo de invulgar coragem e coerência

Orlando Castro, jornalista angolano ao serviço do Jornal de Notícias desde 1991 e colaborador de luxo, digo eu, do Notícias Lusófonas desde a primeira hora, vai lançar, dia 23 de Setembro, na Casa de Angola, em Lisboa, o seu quinto livro, com o título “Alto Hama – Crónicas (diz) traídas”. Editada pela Papiro e com o prestimoso e incondicional concurso da Casa de Angola de Lisboa, “Alto Hama – Crónicas (diz) traídas” é a reunião dos comentários de Orlando Castro que temos tido o grato e honroso prazer de publicar (e, permitam-me a imodéstia, disso sou testemunha) ao longo da existência do Notícias Lusófonas. «Algemas da Minha Traição» (1975), «Açores – Realidades Vulcânicas» 1995), «Ontem, Hoje... e Amanhã?» (1997), «Memórias da Memória» (2001, com prefácio de Arlindo Cunha, são outros títulos da autoria de Orlando Castro, cuja relação com o jornalismo começou muito antes da independência do País no jornal “A Voz dos Mais Novos”, órgão de informação do Liceu Nacional General Norton de Matos de Nova Lisboa. Orlando Castro, quer cá (Portugal) como lá (Angola), é dos poucos que merece o título de Mestre desta profissão e que elegeu o Jornalismo por acreditar religiosamente que com a caneta pode-se lutar por dias de Sol mais quentes, dias melhores e melhores dias, por mais pão, amor, liberdade e democracia. Pena é que os néscios que (des) mandam em Angola, quais aprendizes de políticos e pessoas que a todo custo querem ser gente, julguem (quem lhes conferiu esse direito?) o Orlando pelo simples facto de assumir (trata-se, pois, de um acto de invulgar coragem e coerência) que o seu presidente foi (é) aquele que no mês de Setembro de 1992 prometeu “Calças Novas” sem sequer falar do feitio. Será isso, nos tempos que correm, crime em Angola? É segura e garantidamente, digo eu por minha conta e risco, para todos aqueles que ainda confundem a obra-prima do Mestre com a prima do mestre-de-obras ou a beira da estrada com a estrada da Beira. Fonte: O arauto, Jorge Eurico

China em baixa, em Angola

9 mil milhões de dólares depois, começa a surgir nos jornais de fim-de-semana um verdadeiro bombardeamento aos chineses e à forma como estão a decorrer as obras por eles encetadas no último biénio. É um grande conjunto de acusações fortes que deixam antever uma clara inversão de tendência não daqui a muito tempo. Desde já parece que se negoceia um novo financiamento de 2 mil milhões de dólares com os Emirados Árabes Unidos. Alguém terá ficado surpreendido com isto? ( com a devida venia, Miguel)