domingo, outubro 14, 2007

O papel da rádio em Angola*

A Rádio Ecclesia é sem dúvida, o meio de comunicação que muito disse e diz à liberdade de expressão em Luanda, uma vez que ainda não tem permissão para emitir nas restantes 17 províncias angolanas.

Esta estação reiniciou as suas emissões em 1996 mas, é em 1997 que dá os grandes passos e promove as primeiras emoções nos corações do público angolano, com a emissão de programas e jornais. A estação Católica não é só um novo meio, uma alternativa (em relação aos meios estatais), é antes de tudo um meio de comunicação que procura analisar “o outro lado” das questões que os factos com relevância social e noticiosa fazem despoletar. Lado este, que é muitas vezes ofuscado ou intencionalmente omitido por qualquer razão que não seja a defesa do interesse público da comunidade.
A Rádio Ecclesia é a estação da voz e vez dos que não têm espaço em nenhum outro meio de comunicação falado. A Emissora Católica ajuda hoje, na abertura de horizontes nesta sociedade, onde cada vez mais, os seus citadinos procuram sair do fundo das águas do silêncio que desespera.
Esta assume corajosamente a sua missão e avança sem receios de um sistema que procura calar todos os que são contrários aos seus ideais. Sendo a primeira rádio com um sistema digital avançado em Angola e a única que o usa ao longo das suas emissões até ao momento, a rádio de confiança como também é conhecida, procura construir uma grelha de programas e informação com a maior qualidade possível e sempre com o intuito de levar à população o facto, a verdade, análise e opinião dos que a podem dar fazendo-o bem.
A Ecclesia foi a pioneira dos debates informativos no mundo da rádio em Luanda. Com emissão aos sábados das 10h as 12h, o debate informativo é o segundo maior espaço de audiência da Emissora, na senda dos programas de carácter informativo. O fórum é o outro espaço de opinião. Neste os principais comentários são dos ouvintes, os chamados “comentaristas do quotidiano”.
Neste dois espaços, os interlocutores são chamados a uma desafiadora e nobre missão: “pensar uma nova Angola”. Se este pensamento não é novo, e se daí não saem novidades para um país, a verdade é que sempre conseguiram suscitar fortes diálogos, com muitas críticas dirigidas à governação e aos seus governantes. Todos os sábados, segundas, quartas e sextas são dias de “desabafar”.
Quem também lucrou muito com o surgimento da Rádio Ecclesia, foram os partidos políticos da oposição, não porque tenham um espaço assegurado na rádio mas, porque a Ecclesia dá oportunidade a todos para se expressarem, de acordo com a circunstância e importância sem deixar de ser apartidária. Com a Ecclesia, surgiram os jornais semanários com a mesma linha de actuação.
Com isto, aos poucos, a imprensa passou a ser mais aberta, atrevida e, às vezes, “exagerada”. Seguiram-se críticas, rumores e até pronunciamentos oficiais de que a Rádio Ecclesia “era uma rádio de terroristas”, uma rádio contra-governo que só critica e nunca sugere, há até os mais ousados que a rotularam como sendo a “Rádio da Oposição”, “Rádio da Unita”, o maior partido da oposição. Com estes adjectivos, cada vez mais foi ficando difícil para a Emissora Católica ter fontes oficiais, os canais de informação no governo foram ficando cada vez mais fechados. Hoje, com quase 10 anos de reabertura, a Ecclesia continua a caminhar numa Angola onde já são visíveis, os sinais de uma sociedade pluralista. Hoje, é (também) graças à Ecclesia que cada um com a sua cor partidária, ou sem qualquer uma delas, consegue opinar e fazer da sociedade angolana, um sítio onde a diversidade pode “conversar” e andar.

COLABORAÇÃO NO IGREJA LUSÓFONA

O programa Igreja Lusófona tem o seu espaço ao domingo. A sua emissão em Angola passou por várias dificuldades técnicas que sendo superadas foram reiniciadas as emissões.
Penso que desde o passado até ao momento, muita coisa mudou na relação Igreja Lusófona e Ecclesia. Desde as equipas que foram sendo substituídas (dum lado e do outro) até ao dia e hora de emissão do programa na grelha da rádio Ecclesia. As grandes dificuldades estão principalmente nas informações que nem sempre se tem acesso. Conseguimos ter de acordo com o tema e os problemas com a Internet, o que nem sempre facilita a emissão do programa em Angola. Mas, para além dos horizontes das nossas terras, e bem para lá do Oceano Atlântico esperamos que a nossa voz se faça ecoar para juntos fazermos a nossa parte, neste mundo, que muitos querem melhorar.
* MARGARETH NaGACOVIE
(Trabalho publicado num livro do Programa " Igreja Lusófona da Radio Renascença de Portugal)

Os nossos predadores

“ O problema de Kaposso e que havia tubarões mais gordos ou mais fortes”. Esta é uma das passagens do último romance do célebre Pepetela que me faz reflectir.
Das muitas modas que vemos, a mais incómoda é a clara delapidação (material e moral) que os angolanos sofrem.
O roubo é descarado, aberto. As “ comichões” inexplicadas, a gatunagem aberta e a vontade de enriquecer sem justificação é hoje um passo snobe de afirmação social na minha Angola.

A referência, de “ Pepe” aos “ Kapossos” dos nossos dias não devia ser melhor abordada na história romanceada que um dos nossos “Camões” faz na sua obra. São 390 páginas da história de um novo rico ou de um novo – novo rico, dos tantos que há por aqui.
O homem não olha os meios para cumprir com o seu objectivo, ou seja, engordar as custas de um povo minguante.
A hi (e) stória de um homem que até muda de nome para parecer mais partidário; muda ainda de local de nascimento para ser próximo da terra do primeiro chefe. Mas Kaposso faz mais. Rouba, corrompe, mata, burla, afasta do seu caminho aqueles que pensa serem um incómodo. Come tudo e nada deixa para os demais. O glutão do Kaposso esquece-se, porém, de estudar, de aprender. Só sabe mandar. Pepetela é, pois, sublime nesta narração. O “predador” moderno que sabe que pode virar “presa”. O predador que conhece outros, contudo, mais gordos e mais fortes. Grave! O romance de cabeceira faz-me olhar para sociedade contemporânea angolana. Uma obra recomendável.
Um humano com sentido “ animalesco” na sociedade angolana dos nossos dias, vira um voraz predador. Cuidado com os “ nossos” ...

O repórter com que o editor sonha

(Crónica de a três anos atrás publicada nas páginas do " JORNAL DE ANGOLA" , MAS SEMPRE ACTUAL. Autor: Augusto Alfredo, um " escriba de primeira água")
Prólogo: Erva daninha atrofia as flores e compromete a qualidade do mel! A primeira vez que entrou para uma redacção, saiu de lá decepcionado. Eram 16 horas e a porta principal abria e fechava-se constantemente. Um jornalista chegou com o rosto e a roupa cobertos de poeira. Parecia louco! Entrou em passo de corrida, procurou uma máquina, sentou-se, desfolhou um bloco de notas e começou a escrever. Mal havia começado, foi logo interrompido pelo colega do lado. Pela roupa e autoridade de um e pela sujeira e humildade do outro não teve dúvidas: um era chefe e o outro, subordinado. A decepção surgiu, contudo, quando constatou existir discrepância entre o que lia nas páginas do Jornal e o que ouvira durante a sua curta permanência naquele lugar “caótico”. Pensou então: “Não é possível. Afinal, jornalista pensa como nós!!!” Só mais tarde entendeu: 1º - Um era editor e o outro, repórter. 2º- Repórter não escreve o que pensa, mas narra factos ocorridos.

Assim nasceu a sua paixão pelo jornalismo. Foi amor à primeira vista! Se hoje lhe perguntassem o que era o jornalismo, responderia: “é um pântano; quanto mais nos mexemos, mais nos entranhamos nele. Felizmente, a gente nunca está só!” A produção da notícia implica um trabalho de equipa, onde se envolvem todos, desde o “pauteiro”, motoristas, repórteres, fotógrafos, câmaras, paginadores, a arte e revisores, etc.
A cumplicidade entre editores e repórteres permite um planeamento afinado da estratégia de ataque! Um carreto mal engrenado é um problema para o funcionamento da cadeia. Nessa cadeia salientam-se três etapas cruciais: a pauta, a apuração e a edição. “Tudo o que vem antes não é notícia; tudo o que vem depois não é jornalismo em sentido estrito, pois é gráfica e distribuição”(BASILE, 2002, pág. 95). Sendo assim, a qualidade da notícia a divulgar começa na capacidade imaginativa e criativa de quem vai elaborar a pauta ou o roteiro que contém uma série de hipóteses (boatos, denúncias, versão de uma notícia, telefonemas de leitores, ouvintes ou telespectadores, etc.), a confirmar ou não pelo repórter. Este deve orientar-se pela preocupação de levantar enfoques diferenciados sobre os temas, buscar ângulos novos de abordagem e mostrar agilidade na identificação de novas tendências. Através de leituras e pesquisas, o órgão de informação pode mesmo antecipar a abordagem de um acontecimento. A etapa seguinte é a de apuração: é aqui que entra em campo o “garimpeiro da informação”, o repórter. O repórter é o rosto visível dos jornais, rádios e televisões, pois é com ele que o público e as fontes têm contacto.

O sonho de todo o jornalista é ser repórter, pois é esta a ocupação mais “prestigiante” nos meios de comunicação. (Dizem que quem chega a editor está perto da idade de reforma). Os repórteres, contrariamente aos editores, fazem sucesso junto da audiência e têm uma cadeia de fãs e um bloquinho com contactos telefónicos de fontes, desde a kínguila a ministros, generais eminentes, empresários, artistas famosos! Fazem inveja a qualquer um! Como soldado de um exército em derradeira ofensiva, eles envolvem-se na batalha pela notícia. Deles depende, em grande parte, o sucesso ou insucesso de uma edição. Por isso, é compreensível que todo o editor queira reunir em seu torno os melhores repórteres que a redacção possui. Mas isso é um sonho, difícil de concretizar, sobretudo em África, onde a imprensa ainda não é normalmente um negócio rentável. Raríssimos são os empresários que investem no ramo da comunicação. Como consequência, as dificuldades acumulam-se nas redacções do continente: os salários não são atractivos, há falta de estímulos, de transporte, de computadores e de escolas conceituadas de jornalismo, para além do preço elevado do papel, da impressão e das ligações telefónicas, acesso difícil ao crédito bancário e às fontes. Tudo isto afugenta os melhores profissionais, que buscam áreas circunvizinhas do jornalismo, como a assessoria de imprensa, ou então optam pela diáspora.

A tendência do jornalismo, herdada do séc. XX, é a especialização, sobretudo, com a crescente segmentação da informação. Aliás, quem está habituado a ler jornais em Angola da primeira à última página, entraria em pânico quando comprasse o Washington Post ou O Globo, cada um deles com mais de 70 páginas, com matérias atractivas e devidamente estruturadas. Os consumidores de informação lêem, ouvem e vêem aquilo que lhes interessa. Quem gosta de desporto vai primeiro canalizar a sua atenção para esse espaço e só depois procura dar uma espreitadela em outras áreas. Por isso, é imperioso o aprofundamento no tratamento das notícias a divulgar em cada editoria que compõe a redacção, para atender a essa crescente segmentação.

A vinculação do repórter a uma editoria é caminho aberto para a especialização. A especialização é definida como o resultado da divisão de trabalho. “Trata-se do conhecimento específico de determinado indivíduo sobre determinada área. No Jornalismo, para que se consiga precisão e aprofundamento, a especialização é requisito importante. Contudo, é preciso estar atento, pois, em princípio, o texto jornalístico não deve distanciar-se do leitor, mas, ao contrário, deve ser claro o suficiente para ser entendido pelo leigo, e profundo o bastante para ser útil ao especialista” (Manual escolar de redacção, 1994, 69). É claro que todo o jornalista tem a obrigação de saber redigir um texto, anunciando o vencedor de uma partida de voleibol, mesmo sem saber as regras do jogo. Mas não se escreve sobre buracos na estrada do mesmo jeito que se redige uma informação sobre macroeconomia, por exemplo.

O repórter de que os editores gostam é inteligente, curioso, comunicativo e corajoso. Na posse da pauta, ele procura munir-se do máximo de informação sobre o assunto a abordar. Caso tenha ainda algum tempo, fala com o editor e com colegas de outras áreas, testa o equipamento (gravador etc). A Internet é um instrumento importante para pesquisa. Só depois vai atrás da confirmação das hipóteses levantadas. Mas não se detém apenas na pauta. Busca por iniciativa própria outras abordagens interessantes que tenham surgido ao longo da apuração. Tem faro para a notícia e descobre o gancho noticioso em factos ou discursos aparentemente banais. É obcecado pela verdade e por isso, dúvida de tudo e de todos e sabe questionar! Quando sai à rua, o editor está descansado, pois “vem sempre coisa boa”. Mesmo numa conferência de imprensa, ele consegue ter um ângulo diferente e com valor mais noticioso. Tem porte físico e saúde para as correrias e embates. É incansável! Não fica todo o tempo a choramingar: “Não consegui, porque o ministro não quis falar...” Entretanto, o bom profissional diz: “ O ministro X não falou, mas falei com Y e a notícia está aqui”. É gente que faz. Aquele tem lágrimas, este tem alternativas. Não tem medo de perguntar. Está sempre atento e raramente é desmentido.

Está no lugar certo, na hora certa. Lê jornais, livros e revistas, ouve emissões das rádios e vê a programação de estações de televisão. Está informado e o seu bom nível de cultura geral não o deixa cair. Álcool em horário de trabalho, nem pensar! Age com serenidade e tem tacto no relacionamento com a fonte. Sabe escrever bem e não mistura texto informativo com opinião, um erro frequente na imprensa angolana.

Escreve com simplicidade e clareza. Não escreve “O gigante adormecido anda paralisado...”! Não “afina”, o que entende aliás como ofensa, sobretudo num país com mais de 70% da população analfabeta. Redige tudo sobre o que viu e ouviu, sem medo de não agradar o editor. Sabe pegar o ângulo mais importante do facto e apresenta mesmo ao editor sugestão de pauta para novas abordagens. O repórter com espírito de equipa cria, durante a reportagem, bom ambiente de trabalho. Incentiva fotógrafos e câmaras a procurar boas imagens e melhores ângulos. Investe em equipamento e na sua formação (línguas, informática, etc). Não vê isso como desperdício, mas como investimento. Que editor não adoraria ter um repórter assim? Os tempos estão maus, mas como diz Luiz António Mello, autor do Livro Sobrevivência na Selva do Jornalismo, “Sonhar é um direito assegurado pela Constituição”(MELLO, 1998, 48).

Por isso, se ainda não tem, sonhe em comprar um telemóvel, um computador pessoal, ainda que usado, e compre um carro, um Toyota Starlet já dá jeito! Uma máquina fotográfica, digital seria ideal. Mande elaborar cartões de visita, pois são de grande utilidade. Se não tem carta de condução, matricule-se já. Com todos estes meios, o repórter estará mais tranquilo, pois é facilmente localizado e pode pontualmente estar em qualquer lugar, quando chamado de urgência. É na cumplicidade entre editores e repórteres que repousa, em parte, a longevidade e o prestígio de muitos órgãos de comunicação! Não esqueça de actualizar o passaporte e boa viagem!

Estou a vir, ainda! * Augusto Alfredo, Licenciado em Comunicação Social, é Editor de Economia do “Jornal de Angola”, E-mail: augustoalfredo@hotmail.com

Bibliografia: 1- BASILE, Sidnei. Elementos de Jornalismo Económico. RJ. Campus, 2002. 2-MELLO, Luiz António. Manual de Sobrevivência na Selva de Jornalismo. 2ª Edição. Niterói, RJ: Casa Jorge Editorial, 1996. 3- Manual escolar de redacção da Folha de S.Paulo. S.Paulo: Ática,1994.

Notas: Fotos do Lubango tiradas daqui http://fotoangola.weblog.com.pt/

- Imagens da Huíla utilizadas deliberadamente, pois ai vão se formando quadros ideais para o jornalismo angolano!

sexta-feira, outubro 12, 2007

O vazio de informação na Huíla

Um dos grandes desequilíbrios por mim sentidos, na recente visita que efectuei ao Lubango, foi a gritante falta de informação. Uma falta sentida por um cidadão médio da capital da Huíla no dia a dia.
O desencanto era menor, no entanto, porque decidi nestas ferias desligar-me das notícias e concentrar-me em trabalhos de investigação histórica sobre Caconda, a vila onde nasci. Mas o vazio informativo, mesmo assim, não foi ultrapassado.
Os meios de comunicação social estatais ao que parece estão num “ocaso latente”. Os jornais privados chegam em número bastante inferior, isto quando chegam. A rádio alternativa, a comercial, ainda precisa de uma “terapia de choque” para encontrar o seu norte, depois da sangria que sofreu, levando sarjeta abaixo os laivos da “ independência” da informação e engenhosidade dos fazedores de opinião da altura. Ora, a denúncia, o cruzamento da informação, a opinião de actores sociais diversificados são coisas do passado. Hoje o privilégio vai para o “ politicamente correcto”.
Nesta análise, tentei me colocar no lugar do mais comum dos cidadãos. Aquele, que por força destas circunstancias, já não participa nos grandes acontecimentos da sua terra. A imensa Angola é retractada apenas num sentido, o oficial.
A Huíla, é opinião unânime de quem a conhecei entre 1995 a 2005, regrediu alguns passos no que toca a liberdade de informação. Estes dez anos foram, amiúde, descritos como os tempos áureos para o fomento da imprensa regional. Mesmo com poucos incentivos, a “carolice” de alguns escribas satisfazia as necessidades de informação do grande público.
A crítica, velada ou aberta, era uma constante. A submissão era rejeitada. Claro que não estávamos perante realidades tão distantes como aquelas transmitidas pelo jornal local OMUKANDA, do falecido Miguel, o Kassana ou o César André, mas a informação na Huíla era válida.
O ocaso que se regista hoje é, no entanto, ligeiramente sacudido por uma publicação local nova, conhecida como REVISTA “ LUBANGO”. O magazine tem qualidade, com altos custos. Redacção local, impressão no estrangeiro e toda colorida. Um exemplar me foi oferecido, por um dos jornalistas percursores da iniciativa.

Fui informado que devia ser de âmbito municipal, retractando apenas o Lubango, mas depois foi “ abocalhada” pelo governo provincial. Nada mau. O fomento da imprensa regional volta a ganhar fôlego, mas como se nota só informação oficial pode ai parar.

A revista tem qualidade, bons jornalistas, mas (ainda) não satisfaz a necessidade de informação na Huíla. Bem-haja a iniciativa e que viva muito tempo a revista Lubango.

NOTA: Assim era num passado recente. Hoje, infelizmente, nada mudou. Até quando?

quinta-feira, outubro 11, 2007

Memórias de guerra ( II )

Na visão estratégica da altura a tomada de assalto deste município era um ponto muito importante. Chipindo, no extremo leste da Huila, dá acesso rápido ao Kuando Kubango, ao Huambo e a ao Bié.

É um dos três municípios que constituíam o chamado “ corredor do leste”, um conjunto de três localidades que facilitavam ampliar o "esforço de guerra" tanto para sul, como para os planaltos da zona central de Angola. Com Chicomba e Jamba Mineira, Chipindo é composto de longos carreiros, profundas e inesperadas picadas em planícies e zonas inóspitas que facilitam a vida de uma guerrilha. Estes são pontos trazidos á lume numa série de reportagens, que li e acompanhei pela net, pela pena do jornalista de guerra Stefan Smith escrevendo na altura para um jornal Português.

E neste dia do longínquo ano de 2001, testemunhava, eu próprio, as imagens idílicas na altura trazidas ao publico por este experimentando escriba que descrevia minuciosamente tudo o que observava na região, com a diferença de que via as coisas do lado dos guerrilheiros.

Chipindo era, pois, a sombra de si mesmo. Ao sobrevoar a vila naquela manhã, pudemos observar rios e regatos, bem como, a destruição das pequenas infra estruturas que o colono deixou no terreno. Até as portas foram arrancadas para aquecer as fogueiras dos soldados! Com o escurecer um cenário fantasmagórico tomava conta da zona. O capim fazia parte do cenário. A mendicidade também.
Quase no fim do dia, do poente avistamos os gigantes do ar de regresso. Os últimos minutos nesta “frente de guerra” serviram para memorizar todo um cenário! O regresso ao Lubango estava previsto para as 17, mas a viagem de volta a cidade só aconteceu as 18 horas.

Os 500 kms foram feitos em cerca de uma hora. Os helicópteros iam cheios. Á comitiva inicial foi acrescentado mais um grupo de crianças. Os petizes iriam para um centro de acolhimento. Parentes de oficiais também seguiam e claro o resto dos dois bois semi – gordos que serviram para o nosso almoço serviriam para outros no Lubango, qual espólio de uma guerra que (ainda) não tinha data para ser sucedida pela paz…
(Fotos Internet)

Memórias de guerra ( I )

... Os dois helicópteros levantavam. Rumavam para oeste de volta ao Lubango depois de terem, no Chipindo, deixado a comitiva de militares e policias - de alta patente e sua segurança - e jornalistas numa das mais temidas frentes de guerra de toda a região sul.
Corria o ano de 2001 e a guerrilha do “ galo negro” tinha sido desalojada deste extremo nordeste faziam dez dias. Era cacimbo (tempo seco) e o frio apertava. Os guerrilheiros apossaram-se de Chipindo durante treze longos anos.
A população depauperada, vivia como podia. Longe das trocas comerciais com os grandes centros urbanos, a (sobre) vivência só era possível pela versatilidade dos angolanos. A intenção dos “homens de armas” em levar os jornalistas ao terreno, era para constatar “ in loco” o alargamento do cordão defensivo do exercito governamental, naquele tempo em que estava no auge a lógica de “ fazer a guerra para acabar com ela”.
Os doze jornalistas, em que me incluo, foram autorizados a falar com os capturados da guerrilha, com os comandantes locais da polícia e das FAA e depois com o chefe da missão. Os “ escribas” eram do Lubango e de Luanda. Conhecedor da região (afinal era a minha província e ai residia) e falando o umbundu tive relativa vantagem sobre os demais.
Escolhi, para entrevistar, em entre vários, um senhor de meia-idade. Maltrapilho, olhos assustados, esfomeado. O homem, descalço (suspeito que nunca usou botas militares na vida...), representava apenas um remoto exemplar de um guerrilheiro a moda africana! Falou-me num umbundu vernácular sobre as suas façanhas da guerra! Temia ser preso por muito tempo, fruto da sua captura em terreno de guerra agora ocupado pelo inimigo figadal daquele tempo.
Contou-me que os seus companheiros estavam a menos de dez kms, dados depois não confirmados pelas FAA. Depois deste, ouvi outros tantos. O meu dia mais longo numa frente de guerra ia passando, ora ouvindo as estórias e historias de guerra contadas pelos oficias governamentais, ora rabiscando qualquer coisa no meu bloco de notas. As horas passavam. Mesmo em terreno hostil um agradável almoço foi servido e regado com vinho levado do Lubango. Dois bois semi- gordos foram abatidos para a numerosa refeição. Fiquei curioso em saber se o gado foi capturado dos guerrilheiros ou apascentado nas cercanias.
O que era, quase, impossível numa frente de guerra.....

NOTA: Texto publicado em Setembro e 2006, neste blog, no cojunto de escritos sobre intutulados " Na frente de guerra". A coberura, possivel, do autor de alguns momentos do famigerado conflito armado angolano.

Fotos daqui http://www.blogda-se.blogspot.com/

quarta-feira, outubro 10, 2007

Uma cor muito garrida!

Garrido, um dos ícones do moderno jornalismo huilano aproveitou, com aliás sempre o faz nas suas constantes passagens por Luanda, trocar um dedo de conversa com “ emigrados” jornalistas da Huíla radicados nesta “selva urbana” que se transformou a capital.
O realizador de TV, diz que o Lubango está bem melhor, que está mais limpa e continua a ser aquele destino turístico que os angolanos e expatriados conhecem.

O “homem de mil e um ofícios”, como não se coibiu de dizer, olha com olhos optimistas para o desenvolvimento económico da nossa terra, fazendo com que nos próximos tempos possa ombrear com províncias do litoral visivelmente com meio caminho andando no importante percurso para um desenvolvimento multiforme da sociedade.

O realizador tem as suas impressões digitais no programa “ Nós e a Noite”, um dos símbolos televisivos dos huilanos na grelha nacional, onde o turismo tem sido a tónica dominante.
Diz ele que “ Caconda, Chicomba, Caluquembe e outros municípios do interior despontam para o turismo, agora em tempo de paz”. Salienta que “ hoje por hoje já não é só Cristo Rei, para visitar ou Tundavala para olhar, mas outros locais. E pela localização estratégia no mapa de Angola, a Huíla pode facilitar o turismo de escalada, o chamado turismo radical e mesmo o de praia” realçando este ultimo aspecto pelo facto de rapidamente poder-se escalar o Namibe e duas horas depois poder-se voltar ao Lubango para dormir. Ena pá!
Luís Garrido, com créditos firmados no jornalismo e no sindicalismo, disse lamentar, pessoalmente, a “desgraça” que literalmente se abateu sobre as dezenas de jornalistas da Rádio 2000 despedidos, sem indemnização, em Dezembro de 2005.
Notou, e com razão, que hoje a informação decresceu de qualidade na cidade e o grande prejudicado continua a ser o grande público, privado da mínima notícia indepedente e que não agrade o poder local … ou a quem gere a estação.

terça-feira, outubro 09, 2007

Lubango: Meu cristal do sul!

Lubango. Numa das calídas noites de Agosto, onde há turismo e muito mais.
( Foto: Internet)

Um tribunal atrás do prejuízo ….

Numa corrida, talvez contra o tempo e as pressões nacionais e internacionais, eis que surge da cartola um Juiz Presidente do Tribunal Provincial de Luanda a pretender reavaliar todo o processo que conduziu Graça Campos á cadeia.

O “ escriba” já está a sete dias atrás das grades na “ remodelada” Cadeia Central de Luanda, onde a lotação começa a ficar esgotada, tal é o número de detidos que todos os dias lá chegam.
O tribunal, dizia eu, segundo fonte insuspeita, iniciou a reavaliação do processo depois de ter constatado gritantes falhas do meritíssimo que julgou o jornalista.

“ A sentença do juiz de causa, Pedro Viana, está a ser reapreciada, no sentido de se dar liberdade ao jornalista através de uma caução” segundo o Director adjunto do Semanário Angolense, Silva Candembo, que espera ainda que “ a libertação de Graça Campos venha corrigir um erro da justiça do país” diz o profissional de imprensa.

Graça Campos, vai ficar a saber se em seguida a sentença subirá ao supremo para o recurso, ou a sua consequente soltura. Silva Candembo, não arriscou a data da soltura do Director geral do semanário Angolense.

MISA -ANGOLA lança campanha por Graça Campos*

MISA-Angola lançou, em todo o território nacional, uma campanha de recolha de assinatura com o mesmo objectivo. Dezenas de jornalistas já assinaram o documento, posto a circular inicialmente em Luanda.

«A bem da informação de interesse público, manifestemos solidariedade ao colega Graça Campos», reza o manifesto do ramo angolana do Instituto de Média para a África Austral, sedeado em Windhoek. A notícia da detenção do “ escriba” corre o mundo e espanta os defensores da democracia.
De Paris, a organização “Reporters Sans Frontières (RSF)” exprimiu o seu «espanto» perante a medida de que foi alvo o jornalista angolano.
«O carácter desmedido da pena é um primeiro motivo de inquietação. E o facto de que, em Angola, um jornalista esteja condenado à prisão acentua a nossa preocupação. O país distinguiu-se nos últimos anos pela falta de prisão dos jornalistas radicada em delitos de imprensa.
Infelizmente, este período parece encerrado uma vez que temos que recordar às autoridades angolanas que, em casos deste, a cadeia não é absolutamente uma resposta», acrescentou o comunicado de RSF divulgado no último fim-de-semana.

Felisberto da Graça Campos, está a sete dias na Comarca de Viana, condenado pelo crime de difamação e injúria contra o antigo ministro da Justiça, Paulo Tchipilica. Ao jornalista é ainda exigida uma indemnização de 250 mil dólares. * Com Apostolado

segunda-feira, outubro 08, 2007

Liberdade já !!!

Eis a questão: Quem será o próximo?

Uma lista muito negra!

Neste Outubro chega ao fim o prazo de três longos meses de punição a transportadora aérea nacional de sobrevoar ou pousar no solo Europeu.

Na altura ouviram-se vozes contra, protestos de retaliação e o estudo de vias alternativas para minimizar esta medida tida como negativa para um país soberano, dono de si e conhecedor das leis e normas internacionais.

A inclusão da TAAG na lista de companhias proibidas de voar no espaço aéreo europeu foi adoptada pela Comissão Europeia.

Na altura a Comissão Europeia anunciou que recebeu um parecer favorável, por unanimidade, do seu Comité de Segurança Aérea à quarta actualização da lista do executivo de companhias proibidas de voar no espaço aéreo europeu, por razões de segurança.

Pelo que se sabe, foi a França que, pela primeira vez, detectou anomalias graves a nível da segurança dos aviões desta companhia. Acompanharam a TAAG companhias de outros países com Indonésia, Nigéria, Congo democrático entre outros.
Por azar dos pecados, no dia em que a União Europeia, através da sua Comissão Europeia anunciou a intenção de incluir a companhia de bandeira angolana TAAG na lista negra de companhias áreas impedidas de voar no espaço europeu por razões de segurança, uma aeronave da TAAG, um Boeing 737-200, despenhou-se quando se fazia à pista de Mbanza Congo, proveniente de Luanda, embatendo num edifício.

Este foi apenas o ultimo de uma série de acidentes de aviação que Angola conheceu. Os antonovs, aviões de carga russos, despenharam-se pelo país. Dezenas de pessoas morreram e a assunção da culpa não veio á publico. Quem assume a culpa?

Há gente que exige a cabeça do ministro dos transportes, André Luís Brandão. Entre a multidão que exige a sua exoneração ou demissão está um dos mais renomados deputados do MPLA, Mendes de Carvalho.

Recentemente, talvez num truque de mestre – para antecipar a nova decisão da União Europeia - o governo de Angola aprovou o projecto de lei da aviação civil, tendo em vista a regulação das actividades do sector no espaço aéreo nacional e internacional sob jurisdição angolana. O diploma aprovado pelo Conselho de Ministros procura incorporar na ordem interna normas e práticas recomendadas pela Organização da Aviação Civil Internacional, mediante um mecanismo denominado "Normativos Técnicos Aeronáuticos".

Surgiram notícias de companhias sem cintos de segurança em condições, sem manuais de bordo, sem a possibilidade de acomodar os passageiros. Á boca pequena diz-se que o sistema de manutenção técnica de aeronaves de algumas companhias não tem sido o melhor, devido a insatisfação salarial de alguns operacionais.

Como pode um cidadão confiar a sua segurança á uma empresa de aviação que tem essas debilidades?

As nossas estradas

É um assunto que se impõe: a segurança nas estradas do país, a condição dos veículos e dos seus condutores.
Sente-se que nos últimos tempos são cada vez mais aparatosos os acidentes de viação nas grandes estradas do país.
Acidentes que, diga-se de passagem, aumentam de intensidade na medida em que as estradas são reparadas, melhoraras e reconstruídas. Para ilustrar basta a deslocação do Sumbe á Luanda e vice-versa, com incidência para os fins-de-semana.
Nota-se também que em grande parte dos acidentes estão envolvidos jovens na casa dos 20 ou 30 anos, circulando em viaturas de alta cilindrada, ceifando vidas e acabando com os sonhos de futuro que as vitimas acalentam. Várias famílias são enlutadas a cada fim-de-semana. Serão as estradas, a imperícia dos automobilistas ou a condição técnica dos veículos? O que dizer das escolas de condução e o seu ensino?
Outro sim, vozes se levantam contra a inspecção de viaturas, uma atribuição da corporação policial especializada no assunto. O estado técnico de viaturas importadas especialmente da Europa, volta e meia deixa muito a desejar.
Viaturas há, que se afiguram quase sucatas (permita me a palavra) mas que são autorizadas a circular pela cidade em pé de igualdade com outros em melhores condições. Será que a fiscalização ou inspecção poderia que algum modo atenuar a situação actual?
Os automobilistas para encararem de frente a segurança rodoviária olham para as estradas. A reabilitação das vias em Luanda e no interior do país tem sido uma realidade, apesar de se notarem sinais lentos para o fim destes projectos, cinco anos depois de alcançada a paz.
É sabido por demais, que as estradas são uma espécie de Veias que transportam o sangue do desenvolvimento. Muitos países conseguiram fazer a sua distribuição geográfica, graças a um plano de expansão de rodovias inovador. Cá entre nós será que existe? Estarão as brigadas a trabalhar, segundo o princípio da grande necessidade do país, ou apenas seguindo país, ou apenas seguindo princípios eleitoralistas?

terça-feira, outubro 02, 2007

A descontração dos jornalistas... Uma pausa no tempo para " ficar" por dentro.

. Um dos momentos da saudade, mas que o tempo não apaga. " Picanha do arraso" Dezembro/ 2006. Rádio de confiança- Luanda

Angola rural

Em zonas rurais de Angola, uma motorizada é uma grande oportunidade de ter rendimentos financeiros. A motorizada é o " taxi" usual.

Motim na cadeia de Luanda

Tumultos na Cadeia central de Luanda terminam com dois reclusos mortos e outros cinco gravemente feridos. Um guarda prisional sofreu, igualmente, ferimentos.

Tudo terá começado as 21 horas desta segunda feira, quando um grupo de reclusos tentou forçar a saída para uma fuga.

Segundo apurou a imprensa, durante a noite e madrugada a intervenção das forças policiais, entre elas, a PIR e a “ brigada auto” contiveram os tumultos. Fontes no terreno avançaram a Ecclésia que bairros como, Nguanha, Porto Pesqueiro e Campismo, limítrofes a Cadeia Central de Luanda estiveram a ser fortemente vigiados por efectivos da polícia.

O porta-voz da polícia nacional em Luanda, Intendente Divaldo Martins, disse que há informações que indicam que os reclusos estão insatisfeitos com as condições no interior do estabelecimento prisional.

Por outro lado, o porta-voz da polícia nacional Divaldo Martins, avança que o motim está contido. A revolta dos reclusos da Cadeia central de Luanda (CCL) deu-se com grande incidência na ala masculina da prisão.

Na CCL estão alojados mais de três mil reclusos e é a par da cadeia de Viana uma das maiores de Luanda.

E a coordenadora do projecto de reforma penal da Associação Justiça, Paz e Democracia, Lúcia Silveira, apela ao governo a rever as condições internas nas cadeias do país.
E o psicólogo social Carlinhos Zassala, expressou a sua preocupação perante a falta de psicólogos e sociólogos nas unidades prisionais do país. Segundo afirma, pode ser o acumulo de conflitos não resolvidos que motivaram a situação de segunda-feira.

Mais um blog sobre Angola e o Brasil

Sara Manera, brasileira e amiga, jornalista e estudante de comunicação social tem este blog para todos nós. Nasceu e estuda em Salvador e nutre uma grande simpatia por Angola.
Destaque Luanda e a sua vida nesta movimentada cidade. A Sara está em Angola para investigar " O trabalho das rádios em Angola" com destaque para 3 delas: Ecclésia, LAC e RNA.
Boa leitura
FOTO: Sara e uma amiginha angolana no bairro em que vive em Luanda.