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segunda-feira, abril 21, 2008

KUANDO KUBANGO: Longe da capital, longe de tudo!

Para chegar á Menongue, a cidade capital da província angolana do Kuando Kubango, no extremo sudeste de Angola em primeiro lugar é preciso ter uma paciência hercúlea.
Sem ela, talvez, só outras motivações possam animar um solitário peregrino como um escriba a procura de notícias, factos e acontecimentos. Mas é mesmo assim.

Tanto é assim que tudo começa no aeroporto de Luanda. Voos cancelados, remarcações, check – in moroso, passagem pelo Huambo e finalmente a chegada. Chegada as terras que já foram (?) do fim do mundo.

Um avião da TAAG sem as cores da companhia de bandeira, com uma equipa de tripulação com estagiários que mais se preocupavam com sorrisos do que com a comodidade dos clientes passageiros. Na rota Luanda – Huambo há mais passageiros do que Huambo - Kuando Kubango. É difícil olhar para as causas, mas para a “ cidade vida” vai muita gente, mas para Menongue nem tanto.

O Huambo foi encontrado molhado. Nesta época chove a cântaros e quase todos os dias e por várias horas. Nem deu para sair do avião e retemperar as energias para mais uma deslocação ao extremo sudeste de Angola. Um passo e mais um estávamos a desembarcar no Aeroporto de Menongue.

A infra-estrutura aeroportuária precisa de obras de restauro, melhoria do tapete e um maior rigor na prestação dos serviços em terra das poucas companhias que “tocam” o solo do Kubango Kubango. Sala de desembarque pobre, mas com um vistoso restaurante no edifício em cima.

Depois um “ Kupapata” ( táxi- moto, muito em voga no centro e sul de Angola) e o redescobrir de uma cidade conhecida há cerca de dois anos atrás, sempre alegre no seu viver com dificuldades difíceis de contornar especialmente para as pessoas de baixa renda. Muitos terrenos baldios, mesmo nas ruas conhecidas como principais e a ausência de novas infra estruturas dignas de uma grande nome, saltam a vista ao “solitário peregrino”.

Contactos com as autoridades, governamentais e eclesiásticas, que trazem “sinais vitais” de uma terra que insiste em ser melhor. Apodada por muito tempo de terras do fim do mundo, a realidade insiste em mostrar que continua distante de tudo, até de fortes projectos para o desenvolvimento.

Não prédios novos, os que ainda “cruzam” os céus estão todos eles marcados pela guerra, com a destruição inerente á um conflito em que a “ razão da força superou a força da razão”, como é normal nessas ocasiões.

Junto á uma explanada na rua principal, o consumo de álcool é em quantidades semi - industriais, com jovens mulheres e rapazolas ( sempre estes) entregam-se desalmadamente aos “ descendentes” de Baco! Ao lado um rio que “ rasga” a cidade, atravessado por duas pequenas pontes, mas as marcas da guerra teima em deixar em escombros habitações de dois á três pisos, destruídos.

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Angola e o jornalista

Uma das mais gratas oportunidades profissionais, para mim, é abandonar por uns tempos a redacção, local do labor de todos os dias e, diga-se, dos dias todos.

"Ir para fora cá dentro, poeira nos olhos e cabelos ao vento". Ser enviado á Angola profunda, aquela que fica longe dos olhares de Luanda, mas com uma palavra a dizer sobre o país real.
Nessas ocasiões, só ou em equipa o sentido profissional, para mim, sobe.
A alegria de ser profissional, contribuir mas para o direito á informação surge como um sinal mais para dar a este povo um direito fundamental, mas manietado pelos interesses de quem manipula e baralha as " cartas da vida" para (não) fazer de Angola, um país.
( imagem tirada em meados do ano passado no Dundo - Lunda Norte )

domingo, outubro 14, 2007

O repórter com que o editor sonha

(Crónica de a três anos atrás publicada nas páginas do " JORNAL DE ANGOLA" , MAS SEMPRE ACTUAL. Autor: Augusto Alfredo, um " escriba de primeira água")
Prólogo: Erva daninha atrofia as flores e compromete a qualidade do mel! A primeira vez que entrou para uma redacção, saiu de lá decepcionado. Eram 16 horas e a porta principal abria e fechava-se constantemente. Um jornalista chegou com o rosto e a roupa cobertos de poeira. Parecia louco! Entrou em passo de corrida, procurou uma máquina, sentou-se, desfolhou um bloco de notas e começou a escrever. Mal havia começado, foi logo interrompido pelo colega do lado. Pela roupa e autoridade de um e pela sujeira e humildade do outro não teve dúvidas: um era chefe e o outro, subordinado. A decepção surgiu, contudo, quando constatou existir discrepância entre o que lia nas páginas do Jornal e o que ouvira durante a sua curta permanência naquele lugar “caótico”. Pensou então: “Não é possível. Afinal, jornalista pensa como nós!!!” Só mais tarde entendeu: 1º - Um era editor e o outro, repórter. 2º- Repórter não escreve o que pensa, mas narra factos ocorridos.

Assim nasceu a sua paixão pelo jornalismo. Foi amor à primeira vista! Se hoje lhe perguntassem o que era o jornalismo, responderia: “é um pântano; quanto mais nos mexemos, mais nos entranhamos nele. Felizmente, a gente nunca está só!” A produção da notícia implica um trabalho de equipa, onde se envolvem todos, desde o “pauteiro”, motoristas, repórteres, fotógrafos, câmaras, paginadores, a arte e revisores, etc.
A cumplicidade entre editores e repórteres permite um planeamento afinado da estratégia de ataque! Um carreto mal engrenado é um problema para o funcionamento da cadeia. Nessa cadeia salientam-se três etapas cruciais: a pauta, a apuração e a edição. “Tudo o que vem antes não é notícia; tudo o que vem depois não é jornalismo em sentido estrito, pois é gráfica e distribuição”(BASILE, 2002, pág. 95). Sendo assim, a qualidade da notícia a divulgar começa na capacidade imaginativa e criativa de quem vai elaborar a pauta ou o roteiro que contém uma série de hipóteses (boatos, denúncias, versão de uma notícia, telefonemas de leitores, ouvintes ou telespectadores, etc.), a confirmar ou não pelo repórter. Este deve orientar-se pela preocupação de levantar enfoques diferenciados sobre os temas, buscar ângulos novos de abordagem e mostrar agilidade na identificação de novas tendências. Através de leituras e pesquisas, o órgão de informação pode mesmo antecipar a abordagem de um acontecimento. A etapa seguinte é a de apuração: é aqui que entra em campo o “garimpeiro da informação”, o repórter. O repórter é o rosto visível dos jornais, rádios e televisões, pois é com ele que o público e as fontes têm contacto.

O sonho de todo o jornalista é ser repórter, pois é esta a ocupação mais “prestigiante” nos meios de comunicação. (Dizem que quem chega a editor está perto da idade de reforma). Os repórteres, contrariamente aos editores, fazem sucesso junto da audiência e têm uma cadeia de fãs e um bloquinho com contactos telefónicos de fontes, desde a kínguila a ministros, generais eminentes, empresários, artistas famosos! Fazem inveja a qualquer um! Como soldado de um exército em derradeira ofensiva, eles envolvem-se na batalha pela notícia. Deles depende, em grande parte, o sucesso ou insucesso de uma edição. Por isso, é compreensível que todo o editor queira reunir em seu torno os melhores repórteres que a redacção possui. Mas isso é um sonho, difícil de concretizar, sobretudo em África, onde a imprensa ainda não é normalmente um negócio rentável. Raríssimos são os empresários que investem no ramo da comunicação. Como consequência, as dificuldades acumulam-se nas redacções do continente: os salários não são atractivos, há falta de estímulos, de transporte, de computadores e de escolas conceituadas de jornalismo, para além do preço elevado do papel, da impressão e das ligações telefónicas, acesso difícil ao crédito bancário e às fontes. Tudo isto afugenta os melhores profissionais, que buscam áreas circunvizinhas do jornalismo, como a assessoria de imprensa, ou então optam pela diáspora.

A tendência do jornalismo, herdada do séc. XX, é a especialização, sobretudo, com a crescente segmentação da informação. Aliás, quem está habituado a ler jornais em Angola da primeira à última página, entraria em pânico quando comprasse o Washington Post ou O Globo, cada um deles com mais de 70 páginas, com matérias atractivas e devidamente estruturadas. Os consumidores de informação lêem, ouvem e vêem aquilo que lhes interessa. Quem gosta de desporto vai primeiro canalizar a sua atenção para esse espaço e só depois procura dar uma espreitadela em outras áreas. Por isso, é imperioso o aprofundamento no tratamento das notícias a divulgar em cada editoria que compõe a redacção, para atender a essa crescente segmentação.

A vinculação do repórter a uma editoria é caminho aberto para a especialização. A especialização é definida como o resultado da divisão de trabalho. “Trata-se do conhecimento específico de determinado indivíduo sobre determinada área. No Jornalismo, para que se consiga precisão e aprofundamento, a especialização é requisito importante. Contudo, é preciso estar atento, pois, em princípio, o texto jornalístico não deve distanciar-se do leitor, mas, ao contrário, deve ser claro o suficiente para ser entendido pelo leigo, e profundo o bastante para ser útil ao especialista” (Manual escolar de redacção, 1994, 69). É claro que todo o jornalista tem a obrigação de saber redigir um texto, anunciando o vencedor de uma partida de voleibol, mesmo sem saber as regras do jogo. Mas não se escreve sobre buracos na estrada do mesmo jeito que se redige uma informação sobre macroeconomia, por exemplo.

O repórter de que os editores gostam é inteligente, curioso, comunicativo e corajoso. Na posse da pauta, ele procura munir-se do máximo de informação sobre o assunto a abordar. Caso tenha ainda algum tempo, fala com o editor e com colegas de outras áreas, testa o equipamento (gravador etc). A Internet é um instrumento importante para pesquisa. Só depois vai atrás da confirmação das hipóteses levantadas. Mas não se detém apenas na pauta. Busca por iniciativa própria outras abordagens interessantes que tenham surgido ao longo da apuração. Tem faro para a notícia e descobre o gancho noticioso em factos ou discursos aparentemente banais. É obcecado pela verdade e por isso, dúvida de tudo e de todos e sabe questionar! Quando sai à rua, o editor está descansado, pois “vem sempre coisa boa”. Mesmo numa conferência de imprensa, ele consegue ter um ângulo diferente e com valor mais noticioso. Tem porte físico e saúde para as correrias e embates. É incansável! Não fica todo o tempo a choramingar: “Não consegui, porque o ministro não quis falar...” Entretanto, o bom profissional diz: “ O ministro X não falou, mas falei com Y e a notícia está aqui”. É gente que faz. Aquele tem lágrimas, este tem alternativas. Não tem medo de perguntar. Está sempre atento e raramente é desmentido.

Está no lugar certo, na hora certa. Lê jornais, livros e revistas, ouve emissões das rádios e vê a programação de estações de televisão. Está informado e o seu bom nível de cultura geral não o deixa cair. Álcool em horário de trabalho, nem pensar! Age com serenidade e tem tacto no relacionamento com a fonte. Sabe escrever bem e não mistura texto informativo com opinião, um erro frequente na imprensa angolana.

Escreve com simplicidade e clareza. Não escreve “O gigante adormecido anda paralisado...”! Não “afina”, o que entende aliás como ofensa, sobretudo num país com mais de 70% da população analfabeta. Redige tudo sobre o que viu e ouviu, sem medo de não agradar o editor. Sabe pegar o ângulo mais importante do facto e apresenta mesmo ao editor sugestão de pauta para novas abordagens. O repórter com espírito de equipa cria, durante a reportagem, bom ambiente de trabalho. Incentiva fotógrafos e câmaras a procurar boas imagens e melhores ângulos. Investe em equipamento e na sua formação (línguas, informática, etc). Não vê isso como desperdício, mas como investimento. Que editor não adoraria ter um repórter assim? Os tempos estão maus, mas como diz Luiz António Mello, autor do Livro Sobrevivência na Selva do Jornalismo, “Sonhar é um direito assegurado pela Constituição”(MELLO, 1998, 48).

Por isso, se ainda não tem, sonhe em comprar um telemóvel, um computador pessoal, ainda que usado, e compre um carro, um Toyota Starlet já dá jeito! Uma máquina fotográfica, digital seria ideal. Mande elaborar cartões de visita, pois são de grande utilidade. Se não tem carta de condução, matricule-se já. Com todos estes meios, o repórter estará mais tranquilo, pois é facilmente localizado e pode pontualmente estar em qualquer lugar, quando chamado de urgência. É na cumplicidade entre editores e repórteres que repousa, em parte, a longevidade e o prestígio de muitos órgãos de comunicação! Não esqueça de actualizar o passaporte e boa viagem!

Estou a vir, ainda! * Augusto Alfredo, Licenciado em Comunicação Social, é Editor de Economia do “Jornal de Angola”, E-mail: augustoalfredo@hotmail.com

Bibliografia: 1- BASILE, Sidnei. Elementos de Jornalismo Económico. RJ. Campus, 2002. 2-MELLO, Luiz António. Manual de Sobrevivência na Selva de Jornalismo. 2ª Edição. Niterói, RJ: Casa Jorge Editorial, 1996. 3- Manual escolar de redacção da Folha de S.Paulo. S.Paulo: Ática,1994.

Notas: Fotos do Lubango tiradas daqui http://fotoangola.weblog.com.pt/

- Imagens da Huíla utilizadas deliberadamente, pois ai vão se formando quadros ideais para o jornalismo angolano!

sexta-feira, outubro 12, 2007

O vazio de informação na Huíla

Um dos grandes desequilíbrios por mim sentidos, na recente visita que efectuei ao Lubango, foi a gritante falta de informação. Uma falta sentida por um cidadão médio da capital da Huíla no dia a dia.
O desencanto era menor, no entanto, porque decidi nestas ferias desligar-me das notícias e concentrar-me em trabalhos de investigação histórica sobre Caconda, a vila onde nasci. Mas o vazio informativo, mesmo assim, não foi ultrapassado.
Os meios de comunicação social estatais ao que parece estão num “ocaso latente”. Os jornais privados chegam em número bastante inferior, isto quando chegam. A rádio alternativa, a comercial, ainda precisa de uma “terapia de choque” para encontrar o seu norte, depois da sangria que sofreu, levando sarjeta abaixo os laivos da “ independência” da informação e engenhosidade dos fazedores de opinião da altura. Ora, a denúncia, o cruzamento da informação, a opinião de actores sociais diversificados são coisas do passado. Hoje o privilégio vai para o “ politicamente correcto”.
Nesta análise, tentei me colocar no lugar do mais comum dos cidadãos. Aquele, que por força destas circunstancias, já não participa nos grandes acontecimentos da sua terra. A imensa Angola é retractada apenas num sentido, o oficial.
A Huíla, é opinião unânime de quem a conhecei entre 1995 a 2005, regrediu alguns passos no que toca a liberdade de informação. Estes dez anos foram, amiúde, descritos como os tempos áureos para o fomento da imprensa regional. Mesmo com poucos incentivos, a “carolice” de alguns escribas satisfazia as necessidades de informação do grande público.
A crítica, velada ou aberta, era uma constante. A submissão era rejeitada. Claro que não estávamos perante realidades tão distantes como aquelas transmitidas pelo jornal local OMUKANDA, do falecido Miguel, o Kassana ou o César André, mas a informação na Huíla era válida.
O ocaso que se regista hoje é, no entanto, ligeiramente sacudido por uma publicação local nova, conhecida como REVISTA “ LUBANGO”. O magazine tem qualidade, com altos custos. Redacção local, impressão no estrangeiro e toda colorida. Um exemplar me foi oferecido, por um dos jornalistas percursores da iniciativa.

Fui informado que devia ser de âmbito municipal, retractando apenas o Lubango, mas depois foi “ abocalhada” pelo governo provincial. Nada mau. O fomento da imprensa regional volta a ganhar fôlego, mas como se nota só informação oficial pode ai parar.

A revista tem qualidade, bons jornalistas, mas (ainda) não satisfaz a necessidade de informação na Huíla. Bem-haja a iniciativa e que viva muito tempo a revista Lubango.

NOTA: Assim era num passado recente. Hoje, infelizmente, nada mudou. Até quando?

quinta-feira, outubro 11, 2007

Memórias de guerra ( II )

Na visão estratégica da altura a tomada de assalto deste município era um ponto muito importante. Chipindo, no extremo leste da Huila, dá acesso rápido ao Kuando Kubango, ao Huambo e a ao Bié.

É um dos três municípios que constituíam o chamado “ corredor do leste”, um conjunto de três localidades que facilitavam ampliar o "esforço de guerra" tanto para sul, como para os planaltos da zona central de Angola. Com Chicomba e Jamba Mineira, Chipindo é composto de longos carreiros, profundas e inesperadas picadas em planícies e zonas inóspitas que facilitam a vida de uma guerrilha. Estes são pontos trazidos á lume numa série de reportagens, que li e acompanhei pela net, pela pena do jornalista de guerra Stefan Smith escrevendo na altura para um jornal Português.

E neste dia do longínquo ano de 2001, testemunhava, eu próprio, as imagens idílicas na altura trazidas ao publico por este experimentando escriba que descrevia minuciosamente tudo o que observava na região, com a diferença de que via as coisas do lado dos guerrilheiros.

Chipindo era, pois, a sombra de si mesmo. Ao sobrevoar a vila naquela manhã, pudemos observar rios e regatos, bem como, a destruição das pequenas infra estruturas que o colono deixou no terreno. Até as portas foram arrancadas para aquecer as fogueiras dos soldados! Com o escurecer um cenário fantasmagórico tomava conta da zona. O capim fazia parte do cenário. A mendicidade também.
Quase no fim do dia, do poente avistamos os gigantes do ar de regresso. Os últimos minutos nesta “frente de guerra” serviram para memorizar todo um cenário! O regresso ao Lubango estava previsto para as 17, mas a viagem de volta a cidade só aconteceu as 18 horas.

Os 500 kms foram feitos em cerca de uma hora. Os helicópteros iam cheios. Á comitiva inicial foi acrescentado mais um grupo de crianças. Os petizes iriam para um centro de acolhimento. Parentes de oficiais também seguiam e claro o resto dos dois bois semi – gordos que serviram para o nosso almoço serviriam para outros no Lubango, qual espólio de uma guerra que (ainda) não tinha data para ser sucedida pela paz…
(Fotos Internet)

Memórias de guerra ( I )

... Os dois helicópteros levantavam. Rumavam para oeste de volta ao Lubango depois de terem, no Chipindo, deixado a comitiva de militares e policias - de alta patente e sua segurança - e jornalistas numa das mais temidas frentes de guerra de toda a região sul.
Corria o ano de 2001 e a guerrilha do “ galo negro” tinha sido desalojada deste extremo nordeste faziam dez dias. Era cacimbo (tempo seco) e o frio apertava. Os guerrilheiros apossaram-se de Chipindo durante treze longos anos.
A população depauperada, vivia como podia. Longe das trocas comerciais com os grandes centros urbanos, a (sobre) vivência só era possível pela versatilidade dos angolanos. A intenção dos “homens de armas” em levar os jornalistas ao terreno, era para constatar “ in loco” o alargamento do cordão defensivo do exercito governamental, naquele tempo em que estava no auge a lógica de “ fazer a guerra para acabar com ela”.
Os doze jornalistas, em que me incluo, foram autorizados a falar com os capturados da guerrilha, com os comandantes locais da polícia e das FAA e depois com o chefe da missão. Os “ escribas” eram do Lubango e de Luanda. Conhecedor da região (afinal era a minha província e ai residia) e falando o umbundu tive relativa vantagem sobre os demais.
Escolhi, para entrevistar, em entre vários, um senhor de meia-idade. Maltrapilho, olhos assustados, esfomeado. O homem, descalço (suspeito que nunca usou botas militares na vida...), representava apenas um remoto exemplar de um guerrilheiro a moda africana! Falou-me num umbundu vernácular sobre as suas façanhas da guerra! Temia ser preso por muito tempo, fruto da sua captura em terreno de guerra agora ocupado pelo inimigo figadal daquele tempo.
Contou-me que os seus companheiros estavam a menos de dez kms, dados depois não confirmados pelas FAA. Depois deste, ouvi outros tantos. O meu dia mais longo numa frente de guerra ia passando, ora ouvindo as estórias e historias de guerra contadas pelos oficias governamentais, ora rabiscando qualquer coisa no meu bloco de notas. As horas passavam. Mesmo em terreno hostil um agradável almoço foi servido e regado com vinho levado do Lubango. Dois bois semi- gordos foram abatidos para a numerosa refeição. Fiquei curioso em saber se o gado foi capturado dos guerrilheiros ou apascentado nas cercanias.
O que era, quase, impossível numa frente de guerra.....

NOTA: Texto publicado em Setembro e 2006, neste blog, no cojunto de escritos sobre intutulados " Na frente de guerra". A coberura, possivel, do autor de alguns momentos do famigerado conflito armado angolano.

Fotos daqui http://www.blogda-se.blogspot.com/

segunda-feira, junho 25, 2007

Luanda - Maputo, um breve olhar

(MAPUTO - antiga av. Augusto Castilho in mocambique.blogs.sapo.pt)

A primeira imagem que salta á vista é o que pode comparar com Luanda. Há pouca sujidade, Luanda é o que é. Não há tantos mendigos, nem meninos de rua. De Luanda nem falar.

Há uma espécie consciência ambiental, locais próprios para lixo e quejandos. Nisto Luanda fica atrás. Assim vai Maputo...

quinta-feira, junho 21, 2007

Maputo in a heart

Numa manhã sem sol, quinta-feira, o grupo de potenciais formadores, compôs-se quase por completo com a missão de explorar um outro lado da sua formação. O destino tinha sido traçado para a Rádio Moçambique, a estacão primeira da terra da Marrabenta, e o jornal Noticias, um diário que se mostra como o de maior circulação no país.
Ansiosos, os jornalistas, potenciais formadores, quase se acotovelavam para entrar no autocarro. Um veículo com desenhos escolares, semblante infantil, que por pouco fazia considerar o grupo como meros “rapazes de colégio”. Numa viagem rápida, lá estávamos nós na Rádio Moçambique. Passavam poucos minutos das nove.
Sem burocracia, um cidadão corpulento, que se identificou como director da escola da Rádio, recebeu o grupo de jornalistas de Angola e Moçambique, para as primeiras impressões. Logo, aquele jornalista assumiu as rédeas da visita de constatação da realidade actual da rádio Moçambique, proporcionando informações diversas.
Numa sala de escola da rádio, chamou a atenção dos jornalistas/ formadores a composição do conselho de administração da Rádio Moçambique; a dependência ou não do poder e a possibilidade que há em os profissionais, militantes dos partidos da oposição, reunirem-se nas instalações deste gigante da comunicação social local.
Um museu, que remonta aos anos 30, altura em que a emissora dava os primeiros passos, denominada Rádio Clube de Moçambique, foi apresentado ao grupo. Microfones do passado, maquinaria ultrapassada, fotografias dos momentos altos do estacão estão lá exibidos.
As Redacções de programas, desportiva, central de informação, do jornal da manha e a Emissora provincial de Maputo, foram visitadas.
A dada altura houve uma troca de guia - anfitrião, entrando em cena o delegado do emissor provincial de Maputo. As despedidas foram cordiais com promessas de novas visitas.
O diário NOTICIAS foi a seguir, ultima etapa da visita. A demora na recepção do grupo não retirou a expectativa e a boa disposição da turma. Anedotas foram contadas para animar o grupo.
Um jovem jornalista, redactor da redacção cultural, foi o guia. Rápido nas respostas, não se coibiu em dizer que um melhor salário seria bom para o desempenho dos 32 jornalistas que compõem a casa que carrega a história do país, com mais de 80 anos informando Moçambique. Numa redacção com computadores desalinhados, ligeiramente ultrapassados pelas novas tecnologias, o anfitrião foi descrevendo o dia a dia de funcionamento do Jornal Noticias.
Um olhar rápido á sala de paginação, seguido de uma visita á gráfica, foram os outros caminhos que finalizaram a nossa visita ao jornal. Referência ao assessor técnico do jornal que trabalha na gráfica metade do tempo de vida do NOTICIAS. Como VISÃO o homem do jornal espera pelo recurso ás novas tecnológicas para cada vez mais concorrência no mercado.
Um regresso ao hotel, sem morosidade, mas aproveitado para um turismo “ocasional” onde o destaque foi a imagem de um dos maiores prédios da Africa Austral com 33 andares, na baixa de Maputo.
Uma viagem, dois órgãos da comunicação social que acompanham todos os dias o pulsar de um país.

( Um trabalho escrito e apresentado por MV no curso de formadores em Midia- Maputo)

quarta-feira, junho 20, 2007

Maputo, midia e aprendizagem ( I )

Em Maputo é salutar ouvir a diversidade de emissoras de rádio existentes. Passam de dez, estando ainda outras a procura do seu lugar ao sol, com a possibilidade de mais frequências serem atribuidas. Encontramos de tudo um pouco, desde as publicas, ás privadas, passando pelas comercias, comunitárias e religiosas.
Quem dera que em Angola também assim fosse!
De emissoras de TV, também há um grande passo, com todas elas em sinal aberto, dando a entender uma diversidade de conteúdos, abordagens e concorrência.
Quem dera que em Angola também fosse assim!
No interior, segundo apuramos, o número de meios também tende a subir. A lei de imprensa, apesar de conter algumas armadilhas, ainda serve para o contexto, dizem os jornalistas locais. Salutar é ouvir e ver o despique entre as duas mariores redes de TV, a STV e a TVM.
A concorrência passa pelo dominio da publicidade, os grandes acontecimentos e até a música. Alguns temas politicos, como por exemplo o figurino do organismo que gere a proxima ida as urnas, são tratados sem grandes paixões ou complexos. Os debates sào constantes e abertos, pelo menos mais do que em Luanda.
No entanto, é voz corrente que os jornalistas aqui devem aprimorar a sua aprendizagem. É mais ou menos isso que está a acontecer com a troca de experiencias entre jornalistas locais e angolanos, numa actividade que decorre desde segunda feira, 18 de Junho.

terça-feira, junho 19, 2007

Joanesburgo, Lubango e Maputo.Frio de rachar!

Para quem já vistou o Lubango, nada teme se lhe disserem que o frio em Maio, Junho e Julho é de "rachar". Realmente é ! Nada exagerado. Junho constitui-se assim no tempo mais frio, onde cobras e passáros deixam de se passear, sob pena de morrerem na primeira escquina. Também é pura verdade, quando muitos dizem temer ir ao Lubango nesta época.
Mas, nesta vinda a Maputo, descobri, por momentos, no aeroporto de Joanesburgo que muitas vezes quando recorriamos ao bolentim metereologico desta cidade sul africana para depois comparar com o Lubango, estavamos abslutamente certos. Está, ai também, um frio de rachar.
Para surpresa maior, chego a Maputo e nunca mais me separei dos aguasalhos. Ao primeiro zungeiro ( aqui também assim se chamam, igualzinho aos que pululam por luanda) que enconterei solicitei um forte casaco jeans. Eis tudo ilgualzinho.
Nestas três cidades, da nossa querida Africa Austral, está um frio de rachar.
{foto de Maputo}

Tropelias

"Será que ninguem ainda pensou numa forma de acabar com as tropelias do filho de um dos nossos "muatas"que bate e todo o mundo, sem motivo aparente?", pergunta um homem de Maputo, calcorreando um rua apressado para chegar ao seu jornal. Motava-se que é um home informado.
"..... Hum?" resposta do angolano, por sinal também jornalista.

Maputo!

Eis-me nas terras de Mondlane, nas terras banhadas pelo Índico e atravessada pelo Zambeze. Terra de gente, á primeira vista simpatica! As terras lusofonas da costa oriental Africana.
Desde domingo, finalmente, depois de sucessivos adiamentos, o trabalho me trás a Maputo e o dever me obriga a estar com os meus leitores.
É esta, pois, caros leitores, a terra que vou tentar narrar nos proximos dias.
Já posso dizer " Maninge nice, Mozambique!!!! "

terça-feira, junho 12, 2007

Entre a obra prima do mestre e a prima do mestre de obras....

Café... hoje
Este hoje tem qualquer coisa como 32 anos. Por cá o café tem sido amargo. Mesmo assim, a Carta a Garcia está cada vez mais perto do destinatário. Pelo caminho foi preciso derrotar os que me aconselhavam a deitar a carta na primeira valeta.
É claro que, no meio desses, apareceram alguns que me ajudaram a tirar pedras do caminho, a desminar promessas e a adoçar o café. Reconheço, contudo, que também essas vicissitudes foram úteis. Ajudaram-me a compreender que o possível se faz sem esforço, tal como me permitiram entender que a obra prima do Mestre não é a mesma coisa que a prima do mestre de obras.Infelizmente muitos de nós (já para não falar de muitos dos outros) continuam a confundir a beira da estrada com a estrada da Beira.
Entre dias sem pão (e foram muitos) e pão sem dias (foram mais ainda) cá cheguei. E cheguei continuando, no essencial, a acreditar no (im)possível. Para mim, como se comprova neste desabafo alentado com a perspectiva de um saboroso e revitalizante café, o amanhã começa ontem. E é isso que (pelo menos comigo) vai acontecendo.

Continuo a tentar (maldita deformação genética!) o impossível (o possível faço eu todos os dias) para ajudar a construir as tais páginas da História de Lusofonia. Não sei se terei engenho e arte para tal, mas de uma coisa tenho a certeza: não há comparação entre o que perde por fracassar e o que se perde por não tentar.E tentar é coisa a que estamos todos habituados. Por isso...

NOTA: Caro Orlando, as suas letras cabem como luvas, nas mãos de alguém cujos dedos, algo calejados, ainda prima por discernir o que é ser jornalista, não vergando a coluna vertebral para os abrutres travestidos em homens, ocasionalmente. Bem haja. ( desculpa ter tirado, penso eu, o sentido da sátira)

Publicado aqui www.altohama.blogspot.com

terça-feira, maio 15, 2007

Uma equipa!

Uma das mais gratas oportunidades profissionais, para mim, é abandonar por uns tempos a redacção, local do labor de todos os dias e, diga-se, dos dias todos.
"Ir para fora cá dentro, poeira nos olhos e cabelos ao vento". Ser enviado á Angola profunda, aquela que fica longe dos olhares de Luanda, mas com uma palavra a dizer sobre o país real.
Nessas ocasiões, só ou em equipa o sentido profissional, para mim, sobe. A alegria de ser profissional, contribuir mas para o direito á informação surge como um sinal mais para dar a este povo um direito fundamental, mas manietado pelos interesses de quem manipula e baralha as " cartas da vida" para (não) fazer de Angola, um país.
NOTA: Fiz equipa com o pessoal de imprensa que comigo veio á Lunda Norte, onde apesar das adversidades comuns no interior estabelecemos uma especie de centro de imprensa na cobertura do 1º seminário sobre empreendedorismo na Lunda Norte.
DUNDO

domingo, maio 13, 2007

Novamente no leste de Angola

Depois de recebida a confirmação, fiz apressadamente a mala ( a verdade é que é uma mochila, ligeiramente carcomida pelo tempo, mas testemunha de inúmeras " aventuras" profissionais), gravador, maquina digital para os " bonecos" da praxe e todo o material de apoio á um envado especial. Uma " odisseia" para saber mais sobre o místico leste de Angola.
Depois de ter visitado demoradamente o Luena e Saurimo, desta vez é Dundo, a capital da provincia diamantifera da Lunda Norte. Mais uma vez o dever profissional chama.
O drama começa no aeroporto de Luanda, onde um camarada de trabalho por pouco seria detido pelo simples facto de estar a fotografar o grupo de jornalistas que deve cobrir aqui no Dundo o primeiro seminário sobre empreendedores angolanos.
Dois faribundos e zelosos agentes da ordem, intimidam o escriba sob a alegação de ter de pedir autorização para poder tirar fotos aos seus colegas! Se calhar só podia acontecer em Angola. Travada a discussão, necessaria, lá viemos em paz, não sem antes um dos agentes ter solicitado, diligentemente, o rolo da máquina. mesmo sabendo sem saber ser digital. Santa ignorância!
Dundo, uma cidade erguida aos poucos nos últimos dez anos, não é tao diferente de outras da zona leste, profundamente vitimizadas pela excessiva litoralização da economia. São poucos os projectos que as autoridades aqui densevolvem, ou se tentam, muita coisa esbarra nas estrátegias politicas gizadas nos cómodos gabinetes de Luanda. E a terra cá vai sosobrando! Há zonas visitosas, mas muitas apenas servem para inglês ( neste caso o incauto visitante) ver.
Pelo menos a energia electrica é oferecida 24 horas por dias até ao mais comum dos cidadãos. Até vimos um aterro sanitário na zona onde será construido a futura cidade, pois, segundo nos disseram, a actua está longe de satisfazer a demanda. Já quanto a água potavel é tudo diferente. A que jorra é para poucos.
Nesta segunda feira, governantes e sociedade civil falam do empreendedorismo na versão angolana. Vamos ouvir e reportar na esperança de que algo de substâncial venha a ser dito e feito para trazer densevolvimento as históricamente fabulosas terras do leste deste portentoso país.
DUNDO - LUNDA NORTE
13.MAIO.O7

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Um olhar ao Luena de hoje

Isolamento, distante do mundo são as duas primeiras impressões que saltam a vista de quem chega ao Luena, capital do Moxico, ido de Luanda, a cidade frenética.
Do aeroporto para o centro da cidade a imagem de uma zona remota, parada no tempo, parece assaltar a mente do visitante. Aqui e ali algum movimento, mas longe de conformar uma cidade com vida. Nota-se também que há poucos milhares de habitantes na parte urbana do Luena. Ganhou este nome em homenagem a um rio que passa junto a cidade, a oriente. As suas enchentes nesta época de chuvas e o seu caudal capaz de arrastar consigo muita coisa infundem algum respeito aos populares. Nesta época são poucas as pessoas que arriscam um banho bem tomado ou a lavagem de roupa em zonas distantes, a não ser e pequenos grupos, como de resto acontece com frequência nos arrabalde desta Angola profunda. Luena só assim é chamada a coisa de 30 anos. Perdeu o seu anterior nome ( Luso) no fervor revolucionário, onde tudo foi nacionalizado, incluindo nomes.
O visitante confronta-se com ruas bem demarcadas. Um desenho arquitectónico que orgulha o Remígio Kahilo, 53 anos, feito “cicerone momentâneo” no que a zonas turísticas e sociedade civil dizem respeito. Este funcionário publico não se coíbe em dizer que muito devia ser feito para a melhoria da vida da cidade. “ Não se admite que nem uma empresa privada e nem os serviços comunitários limpem a cidade” atira o homem de meia idade não se importando com as alegações de que os governantes não gostarem de criticas directas. E foi o que observamos. Junto ao antigo Hotel Luso, hoje Luena, montes de lixo são visíveis não se vislumbrando sinais para a sua recolha. Apesar dos vários rios que rasgam as matas da zona leste de Angola não há agua potável no Luena.
A primeira pergunta que assalta o visitante é saber então o que faz a direcção província de aguas? A energia eléctrica sofre duras restrições, onde só pequena zona urbana é abastecida das 16 ás 23 horas. Vezes há em que os arredores da capital provincial também conhece o acender das lâmpadas.
A situação económica é difícil, os preços custam os olhos da cara. Não se vislumbram grandes obras de impacto social, com excepção de alguns jardins vedados para reparações paliativas. O nosso “cicerone momentâneo” alertou para um jardim que foi reinaugurado antes mesmo das obras terem conhecido o seu fim alegadamente porque alguém precisava de inaugurar algo. O Moxico é uma das províncias com maior falta de informação. Poucos são os jornais que chegam ao Luena, com excepção do Jornal de Angola que também sofre algumas limitações na sua distribuição.
A Emissora provincial da RNA está encerrada a quatro meses, pasme-se, para obras! Jornalistas locais dizem que pela lentidão dos trabalhos só lá para Agosto a voz local será ouvida. Neste momento a informação é monocórdica. De Luanda tudo se diz, no Luena tudo se ouve e o povo bate palmas.....

terça-feira, fevereiro 27, 2007

ANTIGOS REFUGIADOS "COMEM" O PÃO QUE O DIABO NÃO TEVE TEMPO DE AMASSAR ...

O centro de refugiados “4 de fevereiro” é apenas um dos três que existem no Luena, a capital do Moxico. È uma província localizada no extremo leste do país, histórica( por ter testemunhado o início da guerra e o seu fim) e parada no tempo( porque 30 anos depois da saída do colono faltam sinais, capazes de dignificar uma capital de província). Mas, mesmo assim, é lá que 600 angolanos, homens, mulheres e crianças, estabeleceram moradia temporária - visitei os cidadãos ( ???) recentemente numa missão de trabalho ao Luena e arredores. São os últimos populares ( quais cidadãos de segunda) chegados pela ponte aérea estabelecida para pelo alto comissariado para os refugiados e o governo angolano para o regresso de refugiados, que saíram do país no tempo da guerra para procurar refúgio do outro lado da fronteira, Republica Democrática do Congo e Zâmbia. Estes, chegaram no dia 16 de Janeiro de avião para o Luena. Em Donla, Zâmbia deixaram tudo: casas, panelas, escolas, enxadas. Reconstruir a vida e os sonhos em Angola, sua terra natal é o grande objectivo. Debalde. A primeira vista só dificuldades. Das promessas efectuadas, nomeadamente para a cedência de instrumentos de trabalho agrícola ainda não se vê a pratica. Alexandre Luis, é um ancião na casa dos 70 anos. Usa o seu tempo cultivando cereais e controlado os seus compatriotas que chegaram consigo ao país, constituido ás pressas coordenador do centro d antigos refugiados. O local escolhido para centro de acolhimento de refugiados é espaçoso. Situado a cerca de 7 Kms do centro do Luena é composto por dezenas de tendas, todas elas com letras garrafais azuis do alto comissariado das nações unidas para os refugiados. Juntam-se no mesmo local homens, mulheres e crianças, dormindo nas mesmas tendas. De postos médicos nem falar. A comunicação é feita Chokwe, Luvale e Inglês; Alberto Elias, um jovem de 27 anos, regressado também no início do ano á Angola de onde saiu ainda criança. Tal como outros jovens o português foi na sua totalidade esquecido. Para este centro de acolhimento, os alimentos são distribuídos a cerca de 5 kms de distância onde os homens vão levantar a comida. Faltam latrinas, fazendo com os dejectos sejam depositados ao ar livre. A volta do centro vêm-se plantações de milho e demais cereais. Também há feijão e muito capim.. Das pequenas lavras saem alguns mantimentos que revezam a comida constante cedida pelo UCNUR; Uma das principais preocupações nesta altura é a falta de escolas para as crianças. A lista de necessidades aumenta com dos dias, pois faltam bilhetes de identidade, chapas, sementes e dinheiro para fazer face a muitas dificuldades sociais Os angolanos recém regressados da Zâmbia dizem que não podem deixar as tendas, pois faltam indícios para a sua transferencia para zonas vigência definitiva. Neste momento, com as chuvas constantes, o seu sofrimento é ainda maior, pois nestas moradias improvisadas residem varias famílias amontoadas. A diarreia em crianças e o paludismo em todos os habitantes do centro “4 de Fevereiro” constituem nas doenças mãos frequentes. Mais de um mês depois da sua transferencia apenas uma vez uma brigada de saúde ai esteve. Estes populares disseram que estão totalmente abandonadoS, depois de "alicientes promessas". Recordo que recentemente o MINARS anunciou o fim do processo de repatriamento organizado de refugiados, alegando estar o país já em fase de desenvolvimento depois do período de emergência. É um processo iniciado em 2002.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

O desenvolvimento da Huíla

Alguns paladinos do desenvolvimento da Huíla, volta e meia, não se coíbem em dizer que a província está no bom caminho. Nada mau se a tendência de trabalhar pela região não fosse conformada numa tónica altamente paliativa. O fomento à agricultura tem sido “imagem de marca” do consulado deste governador que a Huila conhece há cerca de dez anos. Sobre isso a muito que se lhe diga e o tempo urge. Fontes descrevem, no entanto, que a província continua a ter problemas de fundo que poderiam ser resolvidos agora que cabe-lhe um total de 20 milhões de dólares/ ano para os investimentos públicos, tais como a crónica questão do doentio fornecimento de energia eléctrica ao Lubango; o facto de só 20 por cento da população dos 14 municípios ter acesso à água potável; os atrasos salariais (apesar da bancarização dos salários); o nepotismo e a apetência de alguns governantes locais pela criação de empresas em conflito directo de interesses com as pastas que têm sob sua alçada, entre outras questões. No entanto, falar de desenvolvimento no sector de energia e águas numa província onde mesmo com milhões investidos, milhões de habitantes continuar bem beber um copo do precioso liquido sem temer pela cólera é, a todos os títulos, monstruoso. Seria como que enganar a nós próprios! Numa província com cursos de aguas caudalosos, regatos a todo o momento, barragens espalhadas por vários municípios ( Matala, Nganguelas e Neves) é difícil não se dar água potável aos populares. Mesmo no Lubango, a agua potável está longe de atingir todos os recantos na cidade, com zonas atiradas para o esquecimento. Pode-se constatar que apenas a zona urbana tem acesso a agua potável, apesar da caducidade do tempo útil das condutas, na sua maioria do tempo colonial. Se os paladinos do desenvolvimento olhassem para este aspecto provavelmente poderiam ter algum “ freio linguistico” na hora de dizer , aos quatro ventos, que o caminho é seguro e sem retorno. O desenvolvimento nota-se, também, nos pequenos detalhes.