quinta-feira, outubro 11, 2007

Memórias de guerra ( I )

... Os dois helicópteros levantavam. Rumavam para oeste de volta ao Lubango depois de terem, no Chipindo, deixado a comitiva de militares e policias - de alta patente e sua segurança - e jornalistas numa das mais temidas frentes de guerra de toda a região sul.
Corria o ano de 2001 e a guerrilha do “ galo negro” tinha sido desalojada deste extremo nordeste faziam dez dias. Era cacimbo (tempo seco) e o frio apertava. Os guerrilheiros apossaram-se de Chipindo durante treze longos anos.
A população depauperada, vivia como podia. Longe das trocas comerciais com os grandes centros urbanos, a (sobre) vivência só era possível pela versatilidade dos angolanos. A intenção dos “homens de armas” em levar os jornalistas ao terreno, era para constatar “ in loco” o alargamento do cordão defensivo do exercito governamental, naquele tempo em que estava no auge a lógica de “ fazer a guerra para acabar com ela”.
Os doze jornalistas, em que me incluo, foram autorizados a falar com os capturados da guerrilha, com os comandantes locais da polícia e das FAA e depois com o chefe da missão. Os “ escribas” eram do Lubango e de Luanda. Conhecedor da região (afinal era a minha província e ai residia) e falando o umbundu tive relativa vantagem sobre os demais.
Escolhi, para entrevistar, em entre vários, um senhor de meia-idade. Maltrapilho, olhos assustados, esfomeado. O homem, descalço (suspeito que nunca usou botas militares na vida...), representava apenas um remoto exemplar de um guerrilheiro a moda africana! Falou-me num umbundu vernácular sobre as suas façanhas da guerra! Temia ser preso por muito tempo, fruto da sua captura em terreno de guerra agora ocupado pelo inimigo figadal daquele tempo.
Contou-me que os seus companheiros estavam a menos de dez kms, dados depois não confirmados pelas FAA. Depois deste, ouvi outros tantos. O meu dia mais longo numa frente de guerra ia passando, ora ouvindo as estórias e historias de guerra contadas pelos oficias governamentais, ora rabiscando qualquer coisa no meu bloco de notas. As horas passavam. Mesmo em terreno hostil um agradável almoço foi servido e regado com vinho levado do Lubango. Dois bois semi- gordos foram abatidos para a numerosa refeição. Fiquei curioso em saber se o gado foi capturado dos guerrilheiros ou apascentado nas cercanias.
O que era, quase, impossível numa frente de guerra.....

NOTA: Texto publicado em Setembro e 2006, neste blog, no cojunto de escritos sobre intutulados " Na frente de guerra". A coberura, possivel, do autor de alguns momentos do famigerado conflito armado angolano.

Fotos daqui http://www.blogda-se.blogspot.com/

Um comentário:

Soberano Kanyanga disse...

Ndati, ove umbundu, ovangula Ciwa?
Ondaka ei ya fina Cialua
Obs: C inicia com fonema de tch.
S. Canhanga