sábado, janeiro 10, 2009

Rosto da voz Ecclesia, segundo o jornal O País

Entrevista concedida ao Jornal O País, edição nº 9, do dia 9 de Janeiro, com condução de Dani Costa editor de Sociedade. A entrevista está na pagina 36, rubrica " Esperança".
1- Como é que entrou no mundo do jornalismo?

A minha entrada no jornalismo não foi tão acidental. Nutria uma simpatia muito grande por grandes comunicadores que o Lubango sempre teve. São pessoas ás quais rendo uma grande homenagem, Comecei na rádio Huíla, num programa juvenil denominado “ Nova Dimensão” em 1995. Era o contacto da rádio com novos valores. Era gravado de manhã e emitidas as 17 horas de segundo a sexta. O grande desejo de fazer algo de mais útil, pois apenas estudava, impeliu-me a escrever uma carta aos realizadores do programa, queria avançar, ser jornalista de facto. Fui chamado, fiz um pequeno teste, acharam bom. Comecei por assistente do realizador. Quase 13 anos depois, sou o Chefe do Departamento de Informação da Ecclesia.
2- Foi influenciado por alguém para fazer rádio ou sentiu que tinha inclinação para isso?

Sim. Como já disse, grande parte dos grandes comunicadores foram uma influência. Eu costumo dizer que o Lubango é um “ jardim das estrelas”. A lista é infindável de grandes comunicadores que do seu estúdio transmitiam para mim o desejo de um dia estar em frente á um microfone e falar como eles falavam. Falar para as pessoas, contar a vida com notícias. Note que não havia escolas de preparação para jornalistas no Lubango, dai que a tarimba era o melhor mecanismo de aprendizado. Mas a carolice hoje tem sido suplantada pela formação contínua, tanto académica como profissional, com o concurso de nacionais e internacionais. Por exemplo, é para me desenvolver que aderi como membro efectivo ao FAIR – Fórum Africano de Jornalistas de Investigação e não dispenso formação na área de rádio. Espero formar-me em Jornalismo, pois alicercei os meus conhecimentos com a Formação de Formadores em media em Maputo, Moçambique.
3-Ainda se lembra do primeiro dia que entraste num estúdio? Como é que foi ou lembra-se do primeiro trabalho que fez? Foi em Agosto de 1995, uma entrevista sobre o meu bairro. Dirigiam os meus velhos amigos e companheiros, Machel da Rocha e João Carlos. Os joelhos tocavam-se. Tremia que nem vara verde. Hoje me recordo com gargalhadas e senti que poderia ser alguém neste importante mundo da comunicação social. Aquele dia lançou a minha vida para outras caminhadas.
4-O que é que a rádio representa para si? È o mais importante meio de comunicação social em Angola. Fala para as comunidades. Alerta, denuncia, forma e informa. Cá por nós (Ecclesia) lamentamos a falta da extensão do sinal. Eu, na qualidade de profissional de rádio, lamento a falta de estações comunitárias para serem mais próximas das comunidades, rádios que de facto poderiam cumprir um profundo papel junto da camada de base da nossa sociedade. Mas ressalvo que Angola para lá caminha. A minha vivência em Moçambique trouxe a profunda compreensão sobre o papel de uma rádio comunitária há hoje mais de noventa. Os grandes meios, para alem da importância que têm, são de alguma maneira selectivos na abordagem dos assuntos, pelos grupos alvos que têm que atingir. Volta e meia, esquecem as pessoas que vivem na esquina. Daí que gostos de dizer que devemos ser jornalistas da esquina mais próxima aos confins da notícia, 24 horas por dia.
5-A transferência para Luanda foi pacífica ou nem tanto? Como é que se efectuou?

Eu era editor e produtor na Rádio 2000, correspondente da Ecclesia e da Voz da América no Lubango. Vivíamos o ano 2002, um momento particular para a Rádio Ecclesia. Por convite da direcção da altura fui contratado para editor. Rompi com a comercial do Lubango de maneira amigável. Houve reclamação, mas perceberam que andava atrás de um sonho: ser jornalista. Acreditei no meu sonho, a família percebeu e apoiou, a Rádio 2000 compreendeu.
6- És um dos poucos seniores que entraram na sua época que ainda se mantém na emissora Católica de Angola. Qual é o segredo num ambiente de forte sedução, como tem ocorrido regularmente?

Eu olho para o futuro com optimismo. Sou jovem e vejo que se Deus quiser estarei a trabalhar pelas comunidades. Os que saíram são meus amigos. Não confundo opções pessoais com o brilho profissional que eles têm. O ambiente é de forte sedução, como disseste, mas estou convicto de que a vida avança e o futuro pode ser risonho para todos nós, apesar das nossas motivações. Não é segredo para as pessoas que privam comigo que a pressão é frequente.
7- A negação está associada a um bom salário ou outras condições oferecidas pela direcção da Rádio? Ou a ideologia da rádio?

Falo por mim! Gosto de pensar pela minha própria cabeça. Hoje me revejo na Ecclesia, uma rádio que a vários anos conhece o meu trabalho. O público é o grande juiz da minha caminhada, apesar das adversidades. Contudo vamos removendo os espinhos dos caminhos da vida.
8- Como é que avalia o desempenho dos anteriores colegas que passaram para os órgãos públicos fundamentalmente? Alguém o tem marcado em particular?

Continuamos colegas! Marcam-me todos: O Benedito, o João e o meu anterior director executivo Gustavo Silva na TPA, pessoas com as quais privei os bons e os maus momentos do jornalismo. Os dois primeiros foram meus companheiros na Rádio 2000. O Cose e a Regina na TVZImbo também são pessoas com grande capacidade profissional. Eu lembro-me que os dois estiveram a me ver chegar as “suas” rádios. Encontrei a Regina na comercial do Lubango e o Cose na Ecclesia. Receberam-me bem. Olha, a adaptação de todos eles a novas formas de trabalhar, uma nova vida, mostra que têm grande capacidade jornalística.
9-Qual é a mais-valia da Rádio Ecclésia para os trabalhadores e para o público?
A verdade. A frontalidade. A forma de fazer jornalismo olhando apenas para o interesse publico.
10-Como encara a relação da rádio com os vários partidos?

Fomos apodados com vários nomes, de oposição e muito mais. Mas estou seguro em dizer-vos que não há qualquer vínculo com partidos. O vínculo é com a Igreja Católica, o evangelho a base da estação que é pregar e anunciar a palavra do Senhor. Olha, amigo, no antes das eleições acusaram-me de favorecer uma certa ala de um partido. Não tenho ficha de militante seja onde for. E os meus detractores sabem disso.
11- Nunca se sentiu pressionado pelos líderes da Igreja Católica no tratamento de um determinado assunto jornalístico?
Estar a frente de um departamento importante num órgão de comunicação levanta sempre questões dessas. Mas pergunto, o que é uma pressão? È dizer para tratar assim um assunto ou doutra maneira? Há muita subjectividade nestas perguntas e nas respostas. O diálogo marca a nossa casa. As eventuais incompreensões são resolvidas com o diálogo devido a sensibilidade de um jornalismo actuante nos dias de hoje. Ser jornalista é sentir o que pensam todas as sensibilidades nacionais.

2 comentários:

Orlando Castro disse...

Parabéns, meu Caro.
Quem merece... merece. Fico feliz. Faço votos, embora no teu caso saiba que é uma certeza, que continues a pôr a força da razão acima da razão da força.

Kandandu

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

Olá, Vieira, embora não tenha (de facto) chegado a ser quadro da Ecclesia, nutro por ela ligação metafísica. Fui 1 dos 4 redactors/ reporters/editors/noticiaristas seleccionados na altura para arrancar com o projecto em Benguela (2004). E hoje olho com empatia para as teias de aranha no edifício junto ao bispado...
Já agora, e mesmo q pareça pouco urbano, prmita-me pdir que simplesmente não permita que o clarão da ascenção lhe dê comodismo. Vá sempre em frente, com o mesmo afinco, tudo o resto será lucro. Lubango é também o meu terceiro amor, depois de Benguela e Namibe, claro. Sala po ciwa!