“É bom voltar ao Lubango”. A profecia daquele que nos tempos do arco-da-velha, esperava ver todos nós a fazer um recuo e voltar às origens, é quanto a mim cumprida sempre que cruzo aquelas bandas.
O Lubango tem um clima atractivo, semelhante a poucas zonas no planeta. Bem, mas este assunto não é para aqui chamado porque do Lubango, agora felizmente se escreve, embora se limite a iniciativas tímidas, mas louváveis.
Poderei ser acusado de sentimentalista barato, mas por esta cidade nutro um amor verdadeiro, que devia ter pelo meu Lobito.
No Lubango vivi os momentos mais lindos da minha trajectória de vida, bafejado pela piedade incomensurável do Senhor da Vida, passei os meus primeiros 22 anos, quando sai do Lobito com poucos meses de existência.
Em conversa com amigos feitos por entre as montanhas que descrevem a forma circular da cidade, foi-me dito “é bom ver-te”. É “bom voltar ao Lubango” era invariavelmente a minha resposta.
Foi uma das viagens mais completas que fiz, apesar de tê-la feito em muito pouco tempo, pois queria mais. Como é bom viajar com o coração completo?
A paisagem verdejante e o “semblante” acolhedor da cidade receberam a mim e aos outros passageiros em pleno frenesi natalício.
Ao mesmo tempo, percebi que o Lubango é uma cidade velha. De infra-estruturas velhas, e que carece de um ar novo como sugere o seu clima. É inegável a sua cede de crescimento, de passagem a um outro estádio.
Chocou-me contudo, ter dado de caras com obras que geraram mais controvérsia do que alegria para os lubanguenses. Li nos rostos e conversei com gente que criticava severamente as obras atribuídas a administração municipal, que criou duas novas rotundas.
Um sentimento que fica para conversas de bar ao fim da tarde e a boca pequena. Os veículos de opinião na “cidade académica”, foram amordaçados. As rádios não falam, a televisão não mostra e o jornal não escreve, isto quando se trata de opinião diferente da institucional.
As novas obras construídas, uma na conhecida zona dos Laureanos, avenida 4 de Fevereiro e outra, mais triangular na avenida Dr. António Agostinho Neto, nas cercanias do cinema Arco Ires, não trouxeram nenhuma beleza, nem mais valia para o transito, muito pelo contrário.
Não sou arquitecto, mas as dificuldades criadas por estas duas estruturas estão a vista do mais distraído dos cidadãos. Passei por ai quando tive a obrigação de visitar o complexo turístico de Nossa Senhora do Monte, o indiscutível exlibris da cidade do Cristo Rei. Destino de passagem obrigatória.
Outro dos males da cidade é a ainda caótica distribuição de energia eléctrica. A escuridão insondável dos últimos meses, dá sinais de ter terminado, havendo a registar uma certa melhoria, mas este bem indispensável à vida de qualquer mortal em pleno século XXI é tido como um luxo.
Mingua também a água, outro elemento essencial à vida. Os abrangidos pela velha rede beneficiam, com algumas interrupções de quando em quando, mas de quem se espera soluções, nota-se um claro sinal de alergia em dar um toque urbano às nossas zonas periféricas. Ao tema hei de voltar….
* Moisés Sachipangue
Rádio Ecclésia – Luanda
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