sexta-feira, janeiro 09, 2009

O MONTE DE HISTÓRIAS! (II)

O Lubango é sempre um palco de histórias incríveis, especialmente no ramo da comunicação social.
Com o surgimento do primeiro jornal no planalto da Huíla, o desenvolvimento das duas rádios antes da segunda metade do século passado, muito pouco se tem dito sobre a “história do jornalismo huilano”, uma área que, convenhamos precisa de mais investigação, para além da publicação imediata das memorias que os “ mais” velhos na arte têm. È uma forma, a meu ver de trazer para as gerações de hoje, o passado brilhante.

Hoje há mais quantidade (de jornalistas ou coisa parecida) e menos qualidade. Os conteúdos também são sofríveis. Aquele que já foi um dos “viveiros” do jornalismo angolano, especialmente o radiofónico e de imprensa escrita, parece estar a minguar, a sucumbir… Muitos seguem para a comunicação, não por vocação, mas movidos de outros interesses.
Muita gente já não tem na necessidade de dar voz aos que não tem a prioridade (a rigor assim seria) mas para confundir ainda mais as mentes menos permeáveis ao jogo de cintura habitual numa sociedade como a nossa, infelizmente.
Tem que se saber que entre a prima do mestre-de-obras e a obra-prima do mestre há diferença, felizmente.
É esta a convicção de Horácio Sousa dos Reis, ao escrever o livro “ Ao Lubango … Um monte de histórias”. O jornalista e autodidacta, com um pé na publicidade e na gestão da minha sempre querida Rádio 2000 é directo ao dizer a nova geração que é preciso entrar para o jornalismo, primeiro com paixão, depois com formação e humildade para um ser um jornalista com “J” grande! Concordo!
No seu livro, publicado na segunda metade do ano passado, Horácio, passeia as suas memórias em poemas escritos, a gente que o influenciou e as pessoas da sua geração. Parece que o período que mais o marca foi a passagem pela Emissora provincial da Huíla da RNA, onde chegou a chefe de produção. Foi ai onde, um estúdio equipado com meios que hoje, acredito, devem andar num museu qualquer, se gravou um dos maiores clássicos da música huilana. Um som que é, ainda, um hino ao Lubango.
Waldemar bastos cantou “ Lalipo Lubango”, uma musica de sonho e nostalgia para os huilanos que estão na disporá ou em outros cantos do país. Waldemar Bastos aceitou, convicto, a ideia do Horácio para cantar.
Em “ Lubango… Um monte histórias” o autor fala ainda da sua passagem na gestão do complexo turístico e desportivo da Nossa Senhora do Monte, a maior prova de corrida automóvel de Angola (200 kms da Huíla) e das suas habituais crónicas apimentadas por um verbo forte e destemido, mas aligeiradas pela candura da leitura, com a sua voz cavernosa, que poucos o igualam em Angola.

Testemunhei uma época, como editor da Rádio 2000, que as “ suas” notas de redacção obrigavam qualquer gestor público, líder associativo, empresário ou outro agente qualquer, com a necessidade pôr as “barbas de molho” não fosse o próximo texto questionar o seu pelouro.
Infelizmente isto é passado, para mal da democracia. Horácio deixou a Rádio 2000 e com ele o que de melhor havia em termos de opinião pela cidade. Será que alguém quer lhe seguir os passos?

Um comentário:

Soberano Kanyanga disse...

Tu, caro Manel, apesar da distância física e não afectiva que te separa do "Lupango" és um seguidor do Horácio. Vê-se na frontalidade como abordas as questões. Os seguidores têm sempre um "seu caminho". Platão não se fez um Sócrates nem Aristóteles um Platão, mas ambos foram seguidores de um mestre.
Abraço e continue a escrever. Gosto de ler tuas reflexões e apreciações.