domingo, outubro 14, 2007

Os nossos predadores

“ O problema de Kaposso e que havia tubarões mais gordos ou mais fortes”. Esta é uma das passagens do último romance do célebre Pepetela que me faz reflectir.
Das muitas modas que vemos, a mais incómoda é a clara delapidação (material e moral) que os angolanos sofrem.
O roubo é descarado, aberto. As “ comichões” inexplicadas, a gatunagem aberta e a vontade de enriquecer sem justificação é hoje um passo snobe de afirmação social na minha Angola.

A referência, de “ Pepe” aos “ Kapossos” dos nossos dias não devia ser melhor abordada na história romanceada que um dos nossos “Camões” faz na sua obra. São 390 páginas da história de um novo rico ou de um novo – novo rico, dos tantos que há por aqui.
O homem não olha os meios para cumprir com o seu objectivo, ou seja, engordar as custas de um povo minguante.
A hi (e) stória de um homem que até muda de nome para parecer mais partidário; muda ainda de local de nascimento para ser próximo da terra do primeiro chefe. Mas Kaposso faz mais. Rouba, corrompe, mata, burla, afasta do seu caminho aqueles que pensa serem um incómodo. Come tudo e nada deixa para os demais. O glutão do Kaposso esquece-se, porém, de estudar, de aprender. Só sabe mandar. Pepetela é, pois, sublime nesta narração. O “predador” moderno que sabe que pode virar “presa”. O predador que conhece outros, contudo, mais gordos e mais fortes. Grave! O romance de cabeceira faz-me olhar para sociedade contemporânea angolana. Uma obra recomendável.
Um humano com sentido “ animalesco” na sociedade angolana dos nossos dias, vira um voraz predador. Cuidado com os “ nossos” ...

Um comentário:

Anônimo disse...

O Pepetela diz CATAMBOR, mas porque é para branco ler, mas os residentes Malanginos e Quibalas que nesse bairro (muceque)habitavam, no tempo colonial, diziam CATOMBOLO.