terça-feira, março 24, 2009

Os ganhos da visita de Bento XVI *

Quanto o avião Boeing 777 da reformulada companhia italiana Alitalia, que transporta o Papa Bento XVI, aterrar no aeroporto internacional 4 de Fevereiro em Luanda, milhões de angolanos poderão pensar nos três principais ganhos, na minha opinião, da primeira visita apostólica á África do Santo Padre, quatro anos depois do Cardeal alemão Joseph Ratzinger ter sido escolhido o Sumo Pontífice, o líder máximo da igreja católica.
Os ganhos serão, claro, nos capítulos religioso, com o seu forte alcance no passado e nos dias de hoje, e ainda, diplomático e político. No alcance mais local, observam-se os trabalhos de restauro em estradas e acessos a locais das celebrações pontifícias, fachadas de edifícios, paróquias. Muitas residências particulares também conheceram nos últimos dias pintura de fachadas, com realce para adjacente á paróquia de São Paulo.
No capítulo religioso, seguramente o mais notável nesta visita de três dias, confinada á Luanda, o Papa encontra uma Angola sem o mesmo impacto do fenómeno seitas, com por exemplo na Republica Democrática do Congo (RDC), para alem de outras dezenas de países por este continente.
A questão das seitas é várias vezes referida por figuras autorizadas da igreja católica em varias parte do mundo. Alguns cristãos baqueiam perante a avalanche de algumas igrejas tradicionais africanas, a par de outras confissões particularmente de origem sul-americana. O séquito Papal encontra, ainda, um país em que a igreja se apresenta com uma larga experiência no campo da reconciliação nacional e pacificação.
Os congressos pró Pace, as varias edições dos encontros conhecidos como “ semana nacional social” são apenas dois dos mais acabados exemplos do contributo da igreja na pacificação e no cobrir as feridas abertas durante o largo tempo em que irmãos digladiavam-se com armas na mão. Hoje, apesar de ainda haver a necessidade de se limarem varias arestas, o balanço é descrito como positivo e isto é um ganho nacional.
Na área diplomática podemos afirmar sem medo de errar de que esta é a mais importante visita ao país de uma alta entidade nos últimos 17 anos. O Papa tem uma dupla faceta: é chefe de estado do Vaticano e líder mundial da milenar Igreja Católica Apostólica Romana. Um balão de ensaio para os esquemas operativos de segurança desta magnitude foi observado recentemente com a visita á Angola de Raul Castro de Cuba.
Com o sucesso garantido da visita do Santo Padre, há em alguns círculos a convicção de que Angola estaria preparada para receber por exemplo um Barack Obama, dos EUA.
Há observações que apontam que as autoridades angolanas vão capitalizar bastante politicamente com a visita do Papa á Angola. Arrisca-se mesmo em se dizer que o período desta deslocação teria sido friamente calculado, devido a esta nova imagem que o nosso país está a passar para o mundo. Pelo facto de Luanda estar no centro das atenções, os jornalistas deverão mostrar aos quatro cantos do mundo uma Angola em mudança, em paz efectiva desde 2002, em crescimento em época de recessão das grandes economias mundiais, e claro um território profundamente cristão. Certamente a pobreza e o paradoxo com os milhões de barris explorados todos os dias também, poderá ser notícia, mais de cá o “recado” deverá ser o de muito trabalho por se fazer, mas com os pés firmes em época de colapso económico.
Esta leitura política foi desvalorizada na conferência de imprensa dada a bordo do avião pelo Padre Frederico Lombardi, o porta-voz do papa. Lombardi disse “ colocar claramente de lado este deslocação em clima pré eleitoral, rumo as presidenciais”.
* Texto de opinião assinado por Manuel Vieira e publicado na última sexta feira na edição do Semanario O País

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