Á caminho das segundas eleições legislativas em Angola, olha-se para trás para se fazer, com rigor, um balanço das várias promessas feitas pelo poder. Nesta altura os vários programas dos partidos políticos perfilam-se para estabelecer, também, o que podem as suas propostas para a vida dos angolanos, caso caíam no goto dos eleitores.
Um dos dossiers que se arrasta no tempo é dos ex. militares, que constituem um grosso de milhares e milhares de homens e mulheres.
São combatentes que nos anos 60 pegaram em armas para se levantar contra o colonialismo. Homens ligados á FNLA, com o seu Exercito de Libertação Nacional de Angola – ELNA; a UNITA e as suas FALA e o MPLA com as suas FAPLA.
Estes três exércitos estão oficialmente extintos, mas o ónus da sua desintegração persiste com o caminhar do país.
O esforço da normalização das instituições do Estado não pode esquecer os possíveis focos de tensão, sendo os ex- militares um das mais visíveis faceta desta equação. Para tal, segundo entendidos na matéria, é preciso garantir a verdadeira paz para todos.
Citando a famosa frase de Paulo VI “o novo nome da paz é o desenvolvimento” isto pode entender-se, também, como a necessidade de se garantir a cada cidadão o indispensável para a vida, e, para o nosso caso, não esquecer aqueles que foram os protagonistas e estiveram no centro do conflito - os militares.
A primeira grande fase de desmobilização em Angola aconteceu no limiar das eleições, quando se acordou na constituição de um exército único no país. Milhares de jovens, muitos deles retirados das escolas pelas rusgas, atingiam novamente a vida civil. Outros ex. militares depois de anos nas matas voltavam ás aldeias. Kits de desmobilização foram distribuídos e alguns programas de reinserção foram ensaiados e executados.
Quando Angola atingiu finalmente a paz em 2002, com a assinatura do memorando do Luena, o documento complementar ao protocolo de Lusaka, houve a maior desmobilização de tropas que o país, ou quiçá a região alguma vez conheceu. Foi, convenhamos, uma grande operação do estado e seus parceiros, garantir um o mínimo a cada um dos milhares de soldados que deixavam as espingardas e despiam as fardas para se vestir das cores da paz!
Mas, 6 anos depois, muito ficou por se fazer… Tanto é assim que grande parte dos ex. militares das antigas FAPLA optaram pela segurança privada e industrial.
Por seu turno, os seus companheiros da UNITA têm a sua sobrevivência na actividade comercial informal. São roboteiros ( os transportadores de carga em carros de mão em Luanda e nas principais cidades do país; são kupapatas( taxistas em motos, também nos principais centros urbanos ; são comerciantes em pequena escala ou uma miríade de coisas. Apenas alguns conseguiram enveredar por actividades mais rentáveis, tendo a sua reinserção social na verdadeira significação do termo.
Os antigos homens do gatilho ainda reclama uma reinserção condigna. Será legítima esta reclamação? O que falhou esta enorme cadeia de responsabilidades para levar dignidade á pessoas que nos vários campos de batalha defendiam as conhecidas causas que fizeram o conflito?
Sabe-se que a satisfação material, daqueles que estavam a fazer directamente a guerra, foi o modelo seguido. A reabilitação psico-emocional dos ex. homens do gatilho também não seria uma aposta, mesmo tardia, no sentido de se acabar com os traumas de guerra resultantes dos longos anos sob o troar dos canhões, as rajadas das metralhadoras e outras vicissitudes da guerra.
(MV)
Um comentário:
Manel,
Quando a comida é demais fica difícil degustar... Dá-nos aos poucos, tá?
Um abraço
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