Eu pensava que não conhecer a Tundavala era um sacrilégio. E até prometi a mim mesmo lá ir brevemente. É evidente que utilizei a palavra sacrilégio em contraponto com o pecado que cometo quando vou a Roma e não visito Sua Santidade. Se por acaso não estiver de férias em Castelgandolfo. Eu sei que exagerei ao falar em sacrilégio.
O mesmo aconteceria se dissesse heresia. A verdade é que não conheço a Tundavala. Mas tenho pena. E lá indo ponho a menina dos olhos em riste de modo a não perder pitada do que me indicam: Vila Arriaga, a Missão Católica, a Mahita, a represa, o terreiro, a cantina e o mais que conseguir. Até prometo ir às rolas. Ah! Se eu tivesse ainda a 22 longo com óculo! Era tiro e queda como eu fazia no Gimba, à coca debaixo do imbondeiro, com o Toninho Ferreira. Que não se me enevoe a vista e não me trema o dedo no gatilho.
Deixa comigo!
Mas o que eu verdadeiramente não esperava era ter recebido tantos recados com o que escrevi. Houve quem me dissesse que para conseguir olhar o belo da Tundavala eu "preciso de ter simplicidade no coração, ter ouvidos para ouvir o cantar dos pássaros, sentir o cheiro do verde, captar as vibrações que estão no ar... porque às vezes a vida que levamos bloqueia-nos os sentidos....". Houve até quem me aconselhasse a releitura de Chico Buarque "... Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma...". E não é que me lembrei então de um velho provérbio Africano: o tronco da árvore pode ficar muito tempo na água mas jamais será um crocodilo.
Pois é. Deixa comigo!
Do que eu preciso mesmo é de visitar o velho Liceu e sentado na sala de desenho do Ezequiel fechar os olhos e viajar, viajar, viajar... para ter a garantida certeza que o vazio de gente ao nosso lado não passa de uma circunstância.
Ainda estou a tempo. Deixa comigo!
ADAPTADO DE http://praiadasmiragens.blogspot.com/
NOTA: È pena meu caro, que alguns huilanos sintam mais a terra quando estão longe dela. Isso é cada mais evidente na medida medida em que nos afastamos dela por razões profissionais. E tem razão. " Ir á Huíla sem ver a Tundavala ( equipara-se, digo eu), em ir a Roma sem ver o Papa, se não estiver de férias........
Um comentário:
Caro Manuel Vieira
Embora sem ter o prazer de o conhecer pessoalmente, não posso deixar de lhe endereçar um abraço e de lhe agradecer pelas horas que passei a ler o seu blog "Serra da Chela". Um rico caudal de informação, numa escrita lúcida e
corajosa.
Só lhe peço que continue. Serei seu leitor atento.
Um abraço do
P Monteiro
dpmonteiro@sapo.pt
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