segunda-feira, dezembro 11, 2006

MÁSCARAS

As primeiras imagens de mascaras, guardadas na minha memória há longo prazo, são as utilizadas por mukixes, aqueles mukixes das lundas que na minha meninice provocavam em mim um misto de prazer e medo, entre o querer ver e o fugir a figura. Lembro-me de ter visto até pelo menos até os dez anos mukixes com diferentes máscaras. Seria aquele um aspecto natural ou por trás da mascara estava um homem? Para minha infelicidade só obtive a resposta em Luanda. Os anos de escolaridade vieram mostrar-me que aquelas máscaras eram as mais expressivas do nosso país. Fiquei feliz, afinal não eram só os diamantes que lembravam às Lundas. Por ocasião do carnaval apercebe-me que as mascaras não eram uma propriedade dos Lundas, que afinal há aqui muita gente que usa mascaras, existem até bailes de mascaras durante o tempo de carnaval. Rapidamente dei-me conta que em cabinda e em outras partes também usam qualquer coisa que esconde o rosto, que afinal não são só os lundas que usam tão bem as máscaras. Vi também que máscaras entram em vários rituais do nosso país, rituais para pedir benção, ritual de iniciação, ritual para a resolução de problemas comunitários,rituais disso e daquilotro, no fundo rituais para quase tudo, confesso que fiquei impressionado com tamanho uso que se faz das máscaras. Mas a vida ensinou-me confesso que n’alguns momentos de forma dura que tal como a carne e o espirito, existem também mascaras visíveis e invisíveis. Licenciados que se mascaram de doutores, enfermeiros que obrigam as pessoas a chama-los paramédicos, mascaras como da jovem que com rosto de inocente mas que o pecado borbulha nas suas entranhas. Mascaras dos que se fazem passar de big boss mas que não estão com nada. Querem andar com gente fina, confundindo a opinião do mero observador da carne exposta, quando na realidade não passa do arroz com peixe frito. Mascaras do sucesso a custa da desgraça alheia. Uma verdadeira vida do faz de conta, como da mulher daquele estadista que arrependeu-se de ter envelhecido e foi morrer de graça numa operação plástica, na tentativa de colocar uma mascara jovem no rosto envelhecido. São tantas as mascaras que o jogo da cabra sega desapareceu ou está em vias de extinção devido as mascaras. Quanta coisa se perdeu devido ao uso das mascaras! Não sabia que as mascaras modernas meteriam mais medo que as mascaras da minha Lunda. Mas se lhes fica bem e até são elogiados quem sou eu para os contrariar? São apenas mascaras. POR MANUEL JOSÉ

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