terça-feira, janeiro 03, 2012
Um Monte de estórias....
O MONTE DE HISTÓRIAS! (II)
O Lubango é sempre um palco de histórias incríveis,
especialmente no ramo da comunicação social.
Com o surgimento do primeiro jornal no planalto da Huíla, o
desenvolvimento das duas rádios antes da segunda metade do século passado,
muito pouco se tem dito sobre a “história do jornalismo huilano”, uma área que,
convenhamos precisa de mais investigação, para além da publicação imediata das
memorias que os “ mais” velhos na arte têm. È uma forma, a meu ver de trazer
para as gerações de hoje, o passado brilhante.
Hoje há mais quantidade (de jornalistas ou coisa parecida) e
menos qualidade. Os conteúdos também são sofríveis. Aquele que já foi um dos
“viveiros” do jornalismo angolano, especialmente o radiofónico e de imprensa
escrita, parece estar a minguar, a sucumbir… Muitos seguem para a comunicação,
não por vocação, mas movidos de outros interesses.
Muita gente já não tem na necessidade de dar voz aos que não
tem a prioridade (a rigor assim seria) mas para confundir ainda mais as mentes
menos permeáveis ao jogo de cintura habitual numa sociedade como a nossa,
infelizmente.
Tem que se saber que entre a prima do mestre-de-obras e a
obra-prima do mestre há diferença, felizmente.
É esta a convicção de Horácio Sousa dos Reis, ao escrever o
livro “ Ao Lubango … Um monte de histórias”. O jornalista e autodidacta, com um
pé na publicidade e na gestão da minha sempre querida Rádio 2000 é directo ao
dizer a nova geração que é preciso entrar para o jornalismo, primeiro com
paixão, depois com formação e humildade para um ser um jornalista com “J”
grande! Concordo!
No seu livro, publicado na segunda metade do ano passado,
Horácio, passeia as suas memórias em poemas escritos, a gente que o influenciou
e as pessoas da sua geração. Parece que o período que mais o marca foi a
passagem pela Emissora provincial da Huíla da RNA, onde chegou a chefe de
produção. Foi ai onde, um estúdio equipado com meios que hoje, acredito, devem
andar num museu qualquer, se gravou um dos maiores clássicos da música huilana.
Um som que é, ainda, um hino ao Lubango.
Waldemar bastos cantou “ Lalipo Lubango”, uma musica de
sonho e nostalgia para os huilanos que estão na disporá ou em outros cantos do
país. Waldemar Bastos aceitou, convicto, a ideia do Horácio para cantar.
Em “ Lubango… Um monte histórias” o autor fala ainda da sua
passagem na gestão do complexo turístico e desportivo da Nossa Senhora do
Monte, a maior prova de corrida automóvel de Angola (200 kms da Huíla) e das
suas habituais crónicas apimentadas por um verbo forte e destemido, mas
aligeiradas pela candura da leitura, com a sua voz cavernosa, que poucos o
igualam em Angola.
Testemunhei uma época, como editor da Rádio 2000, que as “
suas” notas de redacção obrigavam qualquer gestor público, líder associativo,
empresário ou outro agente qualquer, com a necessidade pôr as “barbas de molho”
não fosse o próximo texto questionar o seu pelouro.
Infelizmente isto é passado, para mal da democracia. Horácio
deixou a Rádio 2000 e com ele o que de melhor havia em termos de opinião pela
cidade. Será que alguém quer lhe seguir os passos?
Fotos daqui http://hunakulu.blogspot.com/
Um rio de noticias
UM RIO DE NOTICIAS…
Quando na noite de domingo, uma avassaladora
e arreliante SMS entrou pelo meu celular adentro, interrompendo a minha atenção
a eleição do novo “board”, equipa líder do fórum de jornalistas investigativos,
fiquei perdido. Estas volta e meia, funestas mensagens, deviam conter “aviso
prévio”, se fosse possível, antes de nos estragarem a vida.
A minha teimosia me atirava para a raiva. “Não,
não pode ser…” Comentei, meio balbuciando, com minha companheira destas
andanças, a Suzana Mendes. Ela pareceu
mais incrédula do que eu. As lágrimas insistiam que tinham que escorrer. Era o
único consolo, mutuo, numa sala com mais 55 colegas e professores catedráticos de toda a África. Até um do Sul do Sudão
apareceu, sem convite inicial!
Com um esforço suplementar, pensei com os
meus botões em homenagear o meu velho amigo “RIACHO”, com aquilo que o
jornalismo nos ensinou: a observação, a narrativa, em fim a crónica. Um adeus!
Afinal era o jornalismo um dos muitos pontos em comum entre eu e ele. A nossa
forma de vida. A forma romântica, por vezes, como olhávamos para os factos,
idealizávamos coberturas, distribuíamos as tarefas aos reportes ou “calcorreávamos”
Luanda para dar uma tal “ rádio a cores” que defino o mosaico comunicacional na
Rádio Ecclesia.
O Rio,
qual “confidente das horas vagas”, deve
ter ouvido, sabe lá Deus quantas vezes, alguns modelos e projectos que tenho
idealizados.
Voltemos, porem, ao passado. Quando em 1995,
franzino e imberbe, franqueei a porta principal da Rádio Huila, com uma cabeça
cheia de sonhos e ilusões sobre a profissão, a minha curiosidade e dos meus
colegas estagiários era conhecer os “gurus” da maior estacão do sul de Angola,
ainda não sei se por rádio de acção ou a colossal demissão das suas estruturas.
Também nunca perguntei.
O Rio Alves era um deles. Uma verdadeira
estrela da companhia. Com ele nomes como o editor Rebelo Veiga, o meu mestre
Joaquim Armando, o velho Álvaro Dias, a tia Aurora, a tia Rosa, hoje directora
provincial da comunicação social, o director Celso e outros que deram o litro,
mas que não cabem neste humilde e singelo retrato.
Mas voltamos, pois, ao Rio Alves, nome que
retirou do seu falecido pai e adoptou como nome profissional. A sua verdadeira
graça é José Manuel Domingos. Era Rio para aqui, Rio para ali. Parecia um
verdadeiro “omnipresente” . Era o “ Expresso da tarde” ou o Noticiário
provincial das 18H30. Era a publicidade ou comunicados. As vezes um espaço que
ficou celebre para mim o “ Huila a noite”, quase como o “Café da Noite” do
Sebastião coelho. Ficava com o Rádio do meu “velho”, para ouvir o Rio, a
Aurora, depois o Carlos Queirós entre outros, apenas interrompendo para seguir
“ Londres ultima hora” da BBC.
Lá estava o homem. Integrei uma equipa que
sob supervisão superior realizava o “ Nova demissão”, um espaço jovem para o
final do dia e integrado no programa do Rio Alves. Assim dava vontade de estar
na cabine para “privar”, mesmo a escassos momentos com a estrela. Com aquele
espaço, antes gravado e depois directo, tive as primeiras lições: O rigor pela hora
e objectivos definidos nas nossas produções. Vitoria!
Mas a nossa estrela sai, para o nosso pranto,
da Rádio. Não sei se instigado, convidado ou apenas olhando para “outros voos”
como me disse num desses almoços as pressas algures no São Paulo, em Luanda,
anos depois.
Para tristeza do Zito machel, da Nadia
Camate, do João Carlos e minha, soubemos que o “ homem da voz cândida”, a moda
dos anos oitenta, seguia para o empresariado, numa firma que dava cartas na
cidade que fica a sombra da Serra da Chela.
Depois eu me mudo com “armas e bagagens” para
a Rádio 2000 e era nos vermos, fugazmente á hora do almoço. O Rio parecia feliz
com o que fazia. Tenho a certeza que o “bicho” da rádio lá continua a apertar.
Depois venho para Luanda e anos depois,
recebo do João Pinto a proposta de darmos uma mãozinha ao também seu mentor, na
mesma cada, a Rádio Huila. Aqui faço esta inconfidência. Se alguém pusesse o João
e o Rio no mesmo programa, a primeira impressão do ouvinte seria de que era a
mesma pessoa. A adaptação foi fácil, tirando a tecnologia. Rapidamente subiu na
cotação interna. Voz sóbria, quase pau para toda obra. De fácil trato. Fino,
quase um gentleman, vaidoso e aprumado, trajado a rigor. Bom, afinal a nossa
estrela continuava.
Não se coibia em ser um dos que mais cedo
chegava ao nosso sempre desafiador turno da manha, com horários sempre
imprevisíveis. Hora choveu e já está engarrafado. Hora a criança está doente.
Em fim em fim. Posso arriscar que nunca o vi a lançar palavras duras a alguém,
mesmo se a situação assim o exigisse. Acho que partiu sem inimigos, reais ou
imaginários. Depois das críticas que volta e meia recebíamos, lá estava o homem
com ânimo de sempre. Era a verdadeira acepção de que “com um sorriso nos lábios
custa, sempre, menos”, parafraseando o pivot da LAC. Fazia desde a reportagem á
edição. As mudanças de turno, a pressão,
positiva, da editora da altura
e eterna colega e amiga Josefina Komba.
Adicionava a leitura e a inevitável publicidade,
nos momentos de aperto “ kuanzal”
Nestes
anos de trabalho, talvez para quebrar a rotina vou sempre dando nomes ao
pessoal, especialmente os do meu turno. Assim temos o Sasse, a Sassinha, o “Fernandinho
Beira mar”, entre outros “nomes” absolutamente jocosos. Mas foi Riacho que bem
colou ao nosso rio. Já foi chamado de “UM RIO DE NOTICIAS”, mas certamente
sorria quando ecoava pela redacção a frase “ Riacho vem a síntese! ” Entre um “Rio
de noticias” e o “Riacho”, sempre menos
caudaloso, intermitente, varias vezes serpenteante e a procura de um rio maior,
conseguiste aos 46 anos, cerca de 30 dedicados a rádio, ser tu próprio.
A morte foi mais uma vez inesperada, rude,
ridícula. Ela vem como um salteador sem hora definida. A morte, ainda dias
falava dela na revista vida obriga-me a revelar que arrancou-me mais um amigo
desinteressado. Deixo-nos, nos os amigos do amigo que parte, cada vez mais soltos nesta “ selva urbana” em
que se transformaram as nossas sociedades, as nossas vidas…
Este é o adeus que nunca te queria dar...
Manuel Vieira
Braadfontein, Joanesburgo
África do sul
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